Recentemente recebei em meu celular, duas mensagens seguidas com informações sobre velórios. Duas pessoas queridas haviam falecido no mesmo dia. Sinceramente me senti chocada com duas notícias dessas em simultâneo. Então já comecei a organizar o meu dia para eu poder ir aos velórios. Em ambos os lugares quando vi as viúvas as abracei e disse: “Sinto muito”. A verdade é que fico muito pensativa no que vou falar quando uma pessoa está vivendo o luto.
Certa vez falei com uma prima minha que havia perdido o filho de 35 anos e falei algo do tipo: “Imagino como você deve estar arrasada ou triste né, com essa situação…” E ela simplesmente desabou… Começou a chorar muito, mas à época eu já tinha o conhecimento da comunicação não-violenta e eu sabia que aquele choro serviria para um alívio depois daquele sentimento.
O que acontece nesses casos é que as pessoas movidas por um sentimento genuíno de querer consertar a situação, normalmente falam: “Calma que vai passar” ou “Você vai superar” ou “Deus vai te confortar”. O que ocorre é que esse consolo no momento de dor não costuma ter muito efeito.
Mais efeito se tem quando vamos ao encontro do sofrimento e falamos dos sentimentos desconfortáveis daqueles que estão vivendo o luto naquele momento, como tristeza, frustração, cansaço.
No livro “Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas”, o rabino Harold Kushner descreve como foi doloroso para ele quando seu filho estava morrendo ouvir as palavras que as pessoas estavam oferecendo no intuito de fazê-lo sentir-se melhor. Ainda mais dolorosa foi a constatação que durante 20 anos ele havia dito as mesmas coisas para pessoas em situação semelhante. Acreditar que precisamos “consertar situações” e fazer os outros se sentirem melhor, impede que estejamos presentes naquele momento.
Bárbara Bezerra
Cirurgiã Dentista, mãe do Gabriel e esposa do Fernando, estudiosa da comunicação não-violenta e que tem como hobby fazer caminhada e ler livros.
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