Mediação de conflito em ambiente de trabalho

por Bárbara Bezerra

Hoje vim trazer um caso, contado por Marshall Rosenberg, autor do livro Comunicação não-violenta e que mostra o quanto é difícil observarmos uma situação sem avaliarmos ou pelo menos conseguir separar as coisas. E ele diz: Adquiri aguda consciência dessa dificuldade quando trabalhei numa escola primária onde eram frequentes as dificuldades de comunicação entre os professores e o diretor. A secretaria de ensino havia me pedido que os ajudasse a resolver o conflito. Eu deveria conversar primeiro com os professores e depois com estes e o diretor juntos. Iniciei a reunião perguntando aos professores:

O que o professor está fazendo que entra em conflito com as necessidades de vocês?

A resposta foi rápida: “Ele fala mais que a boca!

Eu havia pedido uma observação, mas embora a expressãofalar mais que a boca” desse informações de como o professor avaliava o diretor, ela não descrevia o que esse dissera ou fizera que levara o professor a interpretar que ele falava mais que a boca.

Quando assinalei isso, outro professor disse: “Sei o que ele quer dizer, o diretor fala demais!

Em vez de uma observação clara do comportamento do diretor, era mais uma vez uma avaliação de quanto o diretor falava.

Um terceiro professor então declarou: “Ele acha que é o único capaz de dizer algo que valha a pena!

Expliquei que inferir o que a outra pessoa pensa não é a mesma coisa que observar seu comportamento.
Por fim um quarto professor arriscou: “Ele quer sempre ser o centro das atenções.”

Quando apontei que aquilo também é uma inferência do que outra pessoa está querendo, dois professores disseram em coro:Bem, sua pergunta é muito difícil de responder! ”

Mais tarde trabalhamos juntos em uma lista que identificasse comportamentos específicos do diretor que os incomodavam e nos asseguramos que esta lista estivesse isenta de avaliações.

Por exemplo, o diretor costumava contar histórias de sua infância e suas experiências de guerra em suas reuniões com os docentes. Como resultado as reuniões demoravam 20 minutos além da conta.

Quando perguntei se já tinham comunicado seu aborrecimento ao diretor, disseram que haverem tentado, mas que fizeram apenas com comentários de caráter avaliador. Nunca tinham feito nenhuma referência a comportamentos específicos. O hábito de contar histórias, por exemplo. E concordaram em trazê-los à baila quando reuníssemos todos.

Quase tão logo começou a reunião geral, logo entendi do que os professores falavam. Não importando o que estava sendo discutido, o diretor sempre dizia: “Isso me lembra quando…” E iniciava uma história sobre a infância ou a guerra.

Esperei que os professores expressassem seu mal- estar com o comportamento do diretor, entretanto em vez de comunicação não-violenta eles aplicaram condenação não-verbal. Alguns reviraram os olhos, outros bocejaram ostensivamente, outro ficou olhando o relógio.

Aguentei essa situação penosa até que finalmente perguntei: “Alguém vai dizer alguma coisa?
Seguiu-se um silêncio constrangido. O professor que tinha se manifestado primeiro em nossa reunião anterior criou coragem, olhou direto para o diretor e disse: “Ed, você fala mais que a boca! ”

Como mostra essa história, nem sempre é fácil nos livrarmos dos velhos hábitos e dominarmos a capacidade de separarmos a observação da avaliação.

Os professores acabaram conseguindo esclarecer para o diretor os atos específicos que os aborreciam. O diretor escutou de boa vontade e então disparou: “Por que nenhum de vocês me disse isso antes?

Reconheceu ter consciência do hábito de contar histórias e em seguida começou a contar uma, a respeito. Eu o interrompi observando com bom-humor que ele estava fazendo aquilo de novo.

Terminamos nossa reunião desenvolvendo maneiras pelas quais os professores poderiam gentilmente fazer o diretor perceber quando suas histórias não estavam sendo apreciadas.

Bárbara Bezerra
Cirurgiã Dentista, mãe do Gabriel e esposa do Fernando, estudiosa da comunicação não-violenta e que tem como hobby fazer caminhada e ler livros.

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Capa: Imagem de Juan Ospina por Pixabay

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