APENAS UM CONTO DE NATAL

por Darcy Santana

Faltam poucos dias para o Natal.
Um Ano e nove meses se passaram e a velha senhora diz para si mesma como tem sido forte e corajosa em superar sozinha esse terrível tempo de absoluta prisão e solidão.
Treme de pura emoção ao entrar no ônibus que a levará a estação de trem e depois metrô. Fez isso tantas vezes… e hoje, depois de vacinada e devidamente municiada com máscara e outros paramentos, retorna, feliz da vida atrás das esperanças que se renovam.
As pernas um tanto trêmulas, qual borboleta que abandonou a carcaça no chão, vai andando, cumprimentando alegremente as pessoas sorrindo por trás da máscara, feliz da vida como criança ao sol nos parques em coloridas gangorras.
Meio tonta, cuidando para não cair, segue atenta a tudo, casas, lojas, decorações, pessoas…
Aos poucos, passada a euforia, logo veio a saudade da vida que de repente não é mais a mesma, hoje vazia, sem os amigos queridos que se foram, deixando tudo sem luz sem cor.
Pensamentos girando… girando, olhos procurando nos rostos vestígios de alegria, mas vê apenas pesadas máscaras e frios vidros das vitrinas, embora iluminadas não refletem o espírito do Natal que se aproxima.
De volta à casa, com o corpo cansado e dolorido, ela chora.
Chora de saudade, dor e decepção.
Pensou que tudo seria como antes, mas se enganara, tudo mudara, inclusive ela mesma.
Procura o seu cantinho predileto, a janela, donde nas madrugadas fica ouvindo o rumor das copas das árvores, o arrulhar das aves, o vento batendo no rosto. Sem forças para rezar, fica ali, quietinha, no silêncio do ocaso, ouvindo Deus.
Diz para si mesma: se houver Natal em meu coração, poderei transmiti-lo a outros. Agora ela traz a estrela do amor na alma.
A dor bateu sim mas ela cantou Noite Feliz baixinho e as estrelas brilharam, saíram às ruas… todas estão lá.
E a velha senhora sentindo-se amada e protegida por centenas de anjos e amigos invisíveis, olha embevecida as árvores brilhando como pisca-piscas e os ventos que as balançam são sinos tocando em seu velho coração uma doce canção de amor…

Darcy Santana
73 anos, Funcionária pública aposentada. Não sou poetiza, mas gosto de tudo que diz respeito à arte, já tendo participado de concursos de teatro, poesia e pintura em tela. Escrevi um livro sobre minha comunidade, HISTÓRIA DE UM POVO somente para a comunidade e por amor a ela.
Creio no autor da vida, em como se revela a nós na natureza com toda sua beleza.
Gosto de olhar e me encantar com o céu o mar, o arco-íris, a vida e as pessoas. Na minha pequenez se pudesse me dirigiria a todos em forma de canção e poesia.

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