Vera Lucia Silva – os desafios e a reinvenção da vida pós 60 anos

por Mª Aparecida Costa

Refletindo sobre a minha vida me deparei com a necessidade de reinventar meus passos e fazer algo novo, diferente.  Nossa, agora, aos +60 anos? Olhando pra trás comecei a refletir sobre o que aprendi em todos os meus anos de vida e fui recordando.

Quando eu era criança eu pensava que o bom era ter 18 anos, porque aparentemente aos 18 tudo se podia fazer além de poder ir e vir livremente. Mas os 18 demoravam, parece que nunca chegavam.

Aos 14 anos eu fui trabalhar porque no meu tempo isso era permitido e, porque meus pais diziam que era bom para aprender a ter responsabilidade na vida.

Aos 16 eu já estava ajudando em casa para pagar algumas coisas básicas com o dinheiro que ganhava. E finalmente cheguei aos 18. Aos 18 estava cheia de responsabilidades, mas, já tinha um emprego promissor.

E, como tantas pessoas eu trabalhava o dia todo e estudava à noite. E assim prossegui até os 21 quando me formei na Universidade.

Estava formada, tinha um bom emprego, no entanto, me sentia frustrada. Eu queria mais, queria uma carreira e um bom salário numa grande empresa e queria uma vida pessoal mais intensa.

Não tinha um namorado como a maioria das minhas amigas. Quando cheguei aos 30 entrei numa paranoia total, eu tinha que ganhar mais e melhorar minha vida profissional, e, nossa, eu já tinha 30, precisava me cuidar, cuidar mais da pele, do cabelo, me exercitar, comer comida mais saudável, e viver mais intensamente, ter um carro novo, fazer mais cursos, sair, viajar, conhecer lugares, comer em restaurantes famosos, enfim, a lista das coisas que eu precisava fazer era interminável.

Então eu me casei e segui até os 40 equilibrando a vida entre o excesso de trabalho, a nova vida de casada e todas as outras coisas que eu fazia e que me sobrecarregavam ao extremo.

Um pouco depois também precisei cuidar dos filhos que chegaram trazendo a sua luz para minha vida e me mostrando o caminho para o futuro.  Aos 40 eu pensava que estava envelhecendo e que não tinha cuidado suficientemente bem de mim mesma, minha pele estava começando a dar sinais do tempo, meus pés (que pareciam ter crescido) já não estavam confortáveis nos sapatos de salto alto tão elegantes e comecei a pensar que precisava diminuir ritmo de trabalho.

Os meus cabelos que começaram bem cedo a embranquecer já estavam totalmente grisalhos desde os 30 e eram vitimas de tinturas e vários outros tratamentos para parecerem bonitos e melhores. 

No trabalho eu tinha medo do desemprego e, se o desemprego viesse? Eu não teria como arcar com tantos compromissos.  Assim sendo, trabalhei muito mais, e, quando cheguei aos 50 estava melhorando a cada dia na minha vida profissional, minha vida pessoal ia muito bem também e eu ainda fazia inúmeras coisas daquela minha lista interminável.

Finalmente aos 50 comecei a me sentir muito melhor comigo mesma, veio uma aceitação da minha aparência, comecei a ser muito mais eu mesma e já não estava buscando a aceitação de ninguém. Entrei numa fase que eu só precisava estar bem comigo mesma.

Aos 55 atingi o ápice da minha vida profissional com um ótimo emprego e salário e inclusive com oportunidades surgindo em outros países. Não fui, fiquei aqui mesmo e trabalhei muito mais ainda até os 60. Trabalhava 12 horas por dia e passava outras 4 horas no trânsito diariamente, nessa fase também precisei cuidar da minha mãe no que fui ajudada pelo meu marido e filhos de maneira fundamental.

Um dia então o estresse e o trânsito venceram. Aos 60 me aposentei e fui reduzindo gastos e fui reinventando a vida, dedicando tempo a antigas paixões e me preocupando apenas com o essencial.

Você vai dizer que isso é bom. Sim, é bom ter tempo pra fazer o que se gosta, ou pra não fazer simplesmente nada e ficar com as pernas para cima (coisa que eu sonhava quando chegava exausta do trabalho), é magnífico não ter hora pra acordar.

Mas, preciso sim reinventar a vida a cada dia e buscar algo novo pra fazer, não só porque é bom se manter ativo ou porque é importante ocupar o tempo com coisas úteis.

É preciso evitar a tristeza e a solidão também. Sim, eu sinto solidão às vezes, sinto falta da convivência com as pessoas que eu tinha aos montes no trabalho, eu era da área comercial e de vendas e estava sempre visitando clientes, vendo pessoas, falando com elas e conhecendo novas pessoas o tempo todo. 

E também porque é preciso ter sonhos, cultivar sonhos e ir em busca de fazer tudo acontecer. Enquanto a gente vive “a gente tem que viver”, parece obvio né?  Nem sempre vivemos, vamos levando a vida no automático sem perceber o tempo voando. 

Então tem que continuar fazendo planos e sonhando porque isso só vai fazer bem.  Sim, eu sigo fazendo coisas e planejando outras tantas. E como diz uma frase que vi recentemente num anuncio de viagens “melhor fazer check in do que check up”


Eu me formei em Administração de empresas. Depois fui fazer curso de instrutora de Yoga e Meditação mais outros cursos nessa área. Dei aulas um período mas estava sempre concentrada no trabalho nas empresas o que foi me tomando todo o tempo. Agora depois de aposentada é que estou resgatando essas coisas todas para reescrever um novo capítulo na vida.


Por Vera Lucia Monteiro Dias da Silva
Espaço Sathya



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