Como se Morre de Velhice – Cecília Meireles

por Mª Aparecida Costa

Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.

Cecília Meireles, in ‘Poemas (1957)’

Cecília Meireles, nasceu em 1901 no Rio de Janeiro e faleceu em 1964. Perdeu o pai antes do nascimento e a mãe aos 3 anos. Foi criada por sua avó.

Foi professora primária mas paralelamente desenvolveu intensa atividade literária e jornalística, escrevendo nos principais jornais da imprensa carioca.

Escreveu 22 livros, sendo o primeiro livro de poemas – Viagem em 1939, recebendo o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. Publicou Solombra em 1963, Sonhos escrito entre 1950 e 1963 e Poemas de Viagens escrito entre 1940 e 1964.

A última que Cecilia publicou em vida foi “Ou Isto ou Aquilo”.

Talvez você também goste...

Deixe uma resposta