Imagens congeladas, derretimentos possíveis

por Selma Tavares
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Por Selma Tavares – Cientista Social, psicóloga e psicanalista

De repente, surpreendo-me com falas dirigidas a mim, contudo, não sou mais eu que as ouve, descubro que esta a qual se dirigem, ficou no passado. Tornei-me estrangeira para alguns. É como se a maneira de lidar, funcionar e sentir a vida fosse congelada numa foto ou tela, que diz sobre um tempo, afetos e circunstâncias, mas não sobre os movimentos e processos que se seguiram e seguem.

Percebo com muita frequência alguns dos meus, bem próximos, com aspectos de minha imagem congelada no sentido de como me imaginam, me apreendem… Entendo até o porquê: a convivência estreita pode criar uma cortina de fumaça capaz de impedir a percepção de sutis mudanças, pois estas nem sempre se apresentam como um tsunami, elas, pelos menos comigo, vão se aninhando de mansinho, tanto que até eu me surpreendo quando me deparo com o novo em mim.

Este novo em mim vem com a faceta de um sentir diferente diante de pessoas e situações, intuo que, entre outras coisas, foi minha retirada de ser o último recurso das questões do convívio estreito, tais como: família, amigos, trabalho…

Sair da posição, só eu posso, só eu sei e então faço, foi custosa, mas valeu a pena! Abriu espaço para agir onde realmente tenho algum poder. Esse novo que surgiu me deu um distanciamento possível, para olhar de outro lugar e perceber minhas impotências e aceitar o que realmente me cabia em um laço pessoal e social.

Por outro lado, deu a possibilidade aos envolvidos com minha onipotência, acharem sua potência, sua criatividade e caminhos próprios originados em si mesmos, do seu tamanho.

Mudanças são fáceis? Nada! Há algum tempo, sem ter esta percepção, fazia planos e criava expectativas para tentar mudar pessoas e situações, isto pode virar uma missão, também uma perda de tempo e de energia, as pessoas mudam quando querem e podem.

Se existiu algo que me coube, foi ter alguma ação sobre as respostas que dou para o mundo ao meu redor, mudança! Só a minha.

Quanto aos congelamentos, como foram construídos ao longo de algum tempo, seus derretimentos para aqueles mais próximos também não serão imediatos, e penso que também não foi produtivo eu sair com uma bandeira eu mudei, me ocorreu que tinha que dar o tempo necessário dos derretimentos possíveis ou descongelamentos na possibilidade de cada um.

O quem tem funcionado não é panfletar e sim na prática do dia-a-dia agir com meus mínimos novos, também provisórios, e aguardar que me tirem da moldura rígida, gelada, de identidades fixas.

Trabalho em mim viver de forma mutável, com permissão para o aguardado inédito que ainda esta por vir a cada dia que acordo.

Selma Tavares

Cientista Social e Psicóloga, com formação em Psicanálise  e Especialização em Psicoterapia Família e Casal

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Foto de Capa: Pixabay

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