SEMPRE MULHER

Acendem-se as luzes, o público entra, 

ouço o último sinal

Do camarim escuto o rumor

De vozes, murmúrios da plateia

Preparo corpo, voz, a alma enfim!

O corpo não é o jovem de ontem

O de hoje é encurvado, cansado até

Rosto enrugado, ventre inflado

Mãos trêmulas

Cabelos brancos

Peitos murchos

Abrem-se as cortinas, depressa entro

Todas as forças dos grandes mestres

Me acompanham

No respeito ao lugar sagrado

O palco.

Há surpresa nos olhares- há clamores

E a pergunta – quem é a velha, quem é?

Peitos murchos amamentaram

Mãos enrugadas afagaram

Olhos opacos vigiaram o berço

Ventre infértil geraram homens que amaram.

Na plateia, minhas iguais 

Netas, filhas, mães, avós

De todas as raças, credos e cores.

O velho corpo se enrijece, fica novo agora!

Ventre que gerou, deu luz, torna-se belo

Brilho de estrelas no rosto enrugado

Lanternas coloridas no olhar

Cabelos brancos coroa de purpurina

Sou bela, sou vida, sou mãe, sou mulher!

É para elas que me dirijo, mulheres,

Companheiras de lutas, irmãs guerreiras

Sexo frágil, ou forte, como queiram

Cantadas pelos poetas em verso e prosa

Olhando-as, em cada qual me vejo

E ergo o rosto velho e belo.

Último ato: apagam-se as luzes

Fecham-se as cortinas

Não resisto e volto ao palco

Minha casa, meu recanto, meu reduto

Peito murcho erguido

Lanternas no olhar

Cabelos brancos coroa de purpurina

Escuto da plateia: quem é ela? quem é?

Sorrio, encantada…

Meu nome? 

MULHER!

Por Darcy Santana Silva

Instagram: Darcy Santana

73 anos, Funcionária pública aposentada. Não sou poetiza, mas gosto de tudo que diz respeito à arte, já tendo participado de concursos de teatro, poesia e pintura em tela. Escrevi um livro sobre minha comunidade, HISTÓRIA DE UM POVO somente para a comunidade e por amor a ela.
Creio no autor da vida, em como se revela a nós na natureza com toda sua beleza.
Gosto de olhar e me encantar com o céu o mar, o arco-íris, a vida e as pessoas. Na minha pequenez se pudesse me dirigiria a todos em forma de canção e poesia.