São muitas memórias que guardamos da adolescência, algumas nostálgicas e outras nem tanto. Lembro-me que aos finais de semana, eu e minha amiga Iraci comprávamos duas unidades de cigarro. Rindo despreocupadas, sentávamos no portão e o acendíamos quando por ali passava “aquele” rapaz.
Dispúnhamos de poucas informações sobre o assunto e não me ocorria imaginar que flertar com a nicotina daquela forma poderia me colocar em uma armadilha complicada e de difícil libertação. A adolescência é, de fato, uma fase onde estamos mais expostos às primeiras experiências com o cigarro, álcool e outras drogas.
Em nosso País o cigarro é barato e de fácil acesso. E nos anos 60, 70… o ato de fumar foi bastante estimulado. Levar os dedos à boca lentamente, aspirar e soltar baforadas de fumaça, em nossa geração, era considerado um gesto de sedução e charme. Quem não se lembra dos filmes e campanhas publicitárias protagonizados por belos galãs e mocinhas fumantes?
Doce ingenuidade dos 16 anos que acreditando emprestar charme do cigarro, acabou produzindo um hábito e uma dependência. A nicotina é considerada uma droga tão danosa como outras porque possui substâncias que interferem no sistema nervoso central, causando dependência. A dependência resulta em tolerância, abstinência e compulsão para consumir a droga.
Tolerância – quando o organismo se acostuma com uma determinada substância, exigindo seu consumo. No caso do cigarro, o corpo se adapta biologicamente à nicotina e sente prazer ao fazer uso, podendo aumentar gradativamente o consumo.
Síndrome de Abstinência
A interrupção do consumo de nicotina produz a sensação de muito desconforto físico e psicológico conhecido como Síndrome de Abstinência. É uma sensação de desprazer intenso 🙁 e alguns usuários apresentam sintomas como dor de cabeça, tontura, irritabilidade, agressividade, alteração do sono, dificuldade de concentração, tosse e outros. A boa notícia é que esses sintomas tendem a desaparecer em uma ou duas semanas.
O sintoma mais difícil de lidar é a grande vontade de fumar conhecida como “fissura”. No início, a fissura demora até 5 minutos para passar, mas vai ficando cada vez menos intensa e o intervalo entre uma e outra vai se espaçando.
Dicas para quem quer parar de fumar
Depois de 31 anos de uso, muitos maços de cigarro e inúmeras tentativas de parar de fumar compreendi a verdadeira dimensão da dependência de nicotina. Percebi que era preciso encarar o vício como de qualquer outra droga. Procurei um médico, segui suas orientações. Saí de férias no trabalho e nos primeiros dias optei por não sair de casa, evitando qualquer contato com o cigarro. Com a ajuda das minhas princesas Gabi e Isa, decidimos pintar os quartos. Muita água, brincadeiras, risadas e cheiro só de tinta. Dessa vez deu certo e ficou registrado nessa foto como o “dia do cheiro”.
Se você, como eu tentou parar de fumar muitas vezes sem sucesso, não desista! Recupere sua autoestima acreditando que você aprendeu em cada tentativa. Diariamente ouvimos que só não para “quem não tem força de vontade”. As pessoas desconhecem que quem fuma sofre de dependência química que a afeta física e emocionalmente e que é muito difícil suspender o uso do tabaco.
É difícil, mas não é impossível. Não nascemos fumando, aprendemos a fumar em um momento da vida e mantivemos o hábito em determinadas situações e emoções. Para parar é preciso encarar algumas verdades, mudar crenças e hábitos ligados ao ato de fumar.
Vamos às dicas?
Peça ajuda
É preciso compreender e preparar-se para lidar com os sintomas desagradáveis da síndrome de abstinência.
Há vários tipos de apoio para quem quer deixar de fumar. Em serviços públicos de saúde você pode encontrar grupos informativos e ajuda por profissionais da equipe multiprofissional. Procure um mais próximo de você.
Há grupos de auto-ajuda que, por experiência própria, ajudam muito nesse momento. Mesmo na internet você pode encontrar informações que podem ajudar. Pesquise, informe-se!
Importante que você saiba que não está só e quanto melhor compreender razões e motivações que te fazem fumar, melhores chances terá de encarar os problemas de forma mais real e concreta e aumentar as chances de enfrentá-los sem ter que fumar.
Avalie a necessidade de Apoio medicamentoso
Procure um médico para avaliar a necessidade do uso de medicamentos que podem minimizar os sintomas da síndrome de abstinência à nicotina, porém saiba que apenas o uso de medicamentos não vai garantir que você deixe de fumar. É preciso outras mudanças e redirecionamentos em sua vida.
Marque um dia para parar de fumar
Uma das coisas que compreendi na minha empreitada para tentar parar de fumar é que não dava para fazer isso em uma segunda feira no meio da reunião de equipe. Precisava de um cuidado especial.
Há diferentes formas de enfrentar as dificuldades, mas uma sugestão para o Dia D sem cigarros é que você tire férias, programe atividades que você goste de fazer e que te mantenha ativo.
Faça desse dia o primeiro de uma vida muito mais feliz e cheirosa.
Evite o primeiro cigarro
Para quem tentou parar de fumar sabe que o corpo apela. Parece negociar com a gente dizendo “fuma sim, é apenas uma tragada”, “é só um cigarro” e a gente cede. Acredita que não haverá outras fissuras e outros apelos do corpo. E de fissura em fissura e de tragada em tragada, reiniciamos o uso, muitas vezes com maior intensidade.
É importante ter em mente que a fissura passa, fumando ou não. Lembro-me de um amigo a quem tenho eterna gratidão que dizia – você não tem controle sobre a vontade de fumar, mas você tem o controle se vai fumar ou não. Essa frase me empoderava para suportar melhor os sintomas da abstinência.
Nos momentos mais difíceis procure tomar água gelada, chupar gelo, escovar os dentes várias vezes ao dia, comer uma fruta. Mantenha-se ocupado, converse com pessoas, utilize as mãos, movimente-se! Não tente substituir os cigarros por outros com baixos teores. Eles fazem tanto mal à saúde quanto os outros.
Mas se mesmo assim, você fumar aquele cigarro não encare como um fracasso. Tente novamente e fique atento ao que fez você voltar a fumar. Acredite em você e dê tantas chances quantas forem necessárias!
Preste atenção aos hábitos associados ao cigarro
Ao longo da vida os usuários de tabaco vão fazendo algumas associações do hábito de fumar com o cotidiano, exemplo: um cigarro depois do café, depois dos sexo, após as refeições, ao acordar. São momentos em que precisamos ficar atentos e evitar os que forem possíveis. Evite café e bebidas alcoólicas pois eles podem estimular a vontade de fumar, levante-se mais rapidamente da mesa após o almoço, evite ficar próximo de pessoas fumando.
E saiba que isso também vai passar e que logo você poderá retomar outros hábitos sem associá-los ao cigarro.
Procure estimular outras fontes de prazer
É histórico e faz parte do humano procurar fontes de prazer em sua vida e o uso do cigarro é, para o usuário, uma fonte indiscutível de prazer (questionável ou não). É preciso repensar e compensar esses momentos. Que atividades você gosta de fazer? O que mais te dá prazer?
Uma boa opção são as atividades físicas como caminhadas, natação, hidroginástica, musculação. Importante é procurar um exercício ou esporte que você goste de fazer. Vá ao cinema,dance, namore, encontre amigos. Experimente fazer coisas diferentes e atividades que te fazem bem.
Redescubra prazeres, medite, cuide do corpo e da mente.
Respire profundamente
Dizer que não consegue parar porque o ato de fumar acalma e alivia estresse é um dos argumentos que se usa. Nos iludimos com a impressão que os problemas se escondem atrás da nuvem de fumaça?
Observe que ao acender o cigarro, nos ocupamos momentaneamente tirando o foco do problema e ao aspirar a fumaça acabamos por inspirar e aspirar mais profundamente que de costume.
Aprender a relaxar, tirar o foco do problema e respirar profundamente deve ser a meta e isso podemos realizar facilmente sem o cigarro.
Medite, inspire e expire profundamente várias vezes ao dia. Preste atenção em sua respiração. Faça isso também em momentos de angústia ou perdas.
Reveja a alimentação
Essa é uma das maiores barreiras que as pessoas utilizam para não deixar de fumar. Ganhar um pouco de peso é esperado e normal porque o paladar vai melhorando e o metabolismo se normalizando. Mas não se preocupe que o ganho de peso é temporário.
Observe se não está substituindo o prazer de fumar pelo prazer do alimento. Aproveite essa onda de procurar por saúde e reveja os cuidados com a alimentação. Procure alimentar-se de forma equilibrada com alimentos naturais e de baixa caloria como verduras e legumes, evitando consumo exagerado de doces e alimentos gordurosos.
Lembre-se que a atividade física pode ajudar no controle do peso, além de aliviar sintomas de estresse e proporcionar sensação de bem estar. Procure beber bastante líquido, preferindo água e sucos naturais.
Se você chegou aos 50, 60 anos ou + ainda fumando é hora de pensar: os benefícios para quem deixa de fumar são sentidos gradativamente. O desmame da nicotina dura um período infinitamente pequeno em relação à toda uma vida que se ganha. E em cada dia dessa nova vida vai confirmando que o cigarro nunca foi um alento para nada.
Para saber mais
Ministério da Saúde – Programa Nacional de Controle do Tabagismo
4 comentários
Obrigado, já fui a vários médicos , tomei vrvarios remedios e ainda não parei, sou dependente químico a 14 anos limpos do álcool e drogas, e o cigarro ainda não consegui.
Obrigada por participar do blog Cláudio. Subestima-se o poder da nicotina, mas ela produz dependência tanto quanto outras drogas. Não desista! Lembre-se que cada tentativa é um novo aprendizado. Depois volte aqui para nos contar seu processo.Combinado?
Gostei do seu artigo, anotei as dicas e vou serguir! quero largar este vicio…
Ficamos muito felizes que tenha sido útil a vc. Precisa de um esforço no começo, mas é possível sim. Um grande abraço!