-“Até adolescente esquece as coisas, por isso eu não me preocupo com o meu esquecimento.” Este é o argumento preferido da nossa mãe, todas às vezes que tentamos falar sobre lapsos em sua memória.
Se quisermos vê-la ainda mais aborrecida é levar o tema em suas consultas de rotina. Aos 88 anos, ela se recusa a tocar no assunto. Chegamos a pensar ter ela consciência da dificuldade e estar se defendendo com receio de perder sua autonomia.
Conversando com o neurologista, descobrimos o sentido da palavra ANOSOGNOSIA, que se caracteriza pela perda de consciência e negação sobre a doença e suas limitações. É um sintoma ou consequência de doenças neurológicas como Acidente Vascular Cerebral (AVC), Alzheimer, esquizofrenia ou demência, sendo mais frequente em idosos. Pode acontecer em vários estágios da demência, porém é mais comum entre os casos mais graves.
É diferente de quando você esquece nomes, onde guardou algum objeto ou quando vai fazer alguma coisa em casa e no meio do caminho esquece, tendo que voltar para lembrar.
O diagnóstico e acompanhamento da Anosognosia pode ser realizado por um neurologista ou geriatra. É mais difícil porque as pessoas não acreditam que tem a doença e não aceitam o diagnóstico e tratamento psicológico ou medicamentoso. Na grande maioria dos casos, é a família que percebe as mudanças e leva a pessoa ao serviço médico.
Não existe um tratamento específico para este quadro, no geral o cuidado consiste em focar na causa do problema, o que reduz o sintoma.
Os médicos orientam a realização de atividades de estímulo cognitivo como caça-palavras, quebra-cabeças ou palavras-cruzadas; a prática de atividades físicas, psicoterapia e terapia em grupo. O foco é proporcionar melhor qualidade de vida à pessoa, incentivando atividades que ela demonstre prazer e interesse.
Alguns sinais de alerta:
- Mudança repentina de comportamento da pessoa;
- Uso da mesma roupa, sem ter consciência;
- Redução dos hábitos de higiene;
- alterações no humor quando confrontamos sua condição;
- falta de consciência sobre a doença.
Conhecer o sentido desta palavra pode ajudar as famílias a buscar um diagnóstico e tratamento, mas também a olhar de forma mais empática um familiar com este problema.
Lembre-se: a pessoa nega não por resistência, mas por absoluta falta de consciência do problema. É preciso tato, sensibilidade, delicadeza e muito amor na abordagem e na continuidade do cuidado.
Por aqui temos conseguido avanços, o diagnóstico da nossa mãe melhorou a conexão e empatia com ela.
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2 comentários
Achei muito interessante este artigo, até porque muitos só dizem que é coisa da velhice. Mas sabemos que a pessoa pode viver com mais qualidade de acordo com a forma de abordar o problema. Me vejo esquecendo coisas e perdendo objetos que eu mesma guardei. Isso começou a ficar mais frequente, chegando a me aborrecer por meus descuidos.
Obrigada por sua participação! Muitas vezes sofremos além do necessário por desconhecermos algumas informações importantes, não é? Um grande abraço!