Bianca Magalhães, sobrinha querida, me envia pelo correio o livro de Valter Hugo Mãe — Minha mãe é a minha filha. Ela o faz por empatia, por compreender que neste momento da vida estou vivendo o papel da filha que cuida amorosamente de sua mãe. Quanta sensibilidade e compreensão em seu gesto! 🙂
Aos 90 anos, a mãe, com algum grau de consciência, por vezes me chama de mãe, outras vezes se veste do que ainda lembra da autoridade de mãe e se rebela com os cuidados: — você é minha filha e eu que mando aqui.
Por vezes, agradece à mão que lhe estende o copo de água, em outras, consegue transformar um ato simples como engolir um comprimido em verdadeiro ato de negociação e diplomacia.
Há madrugadas frias em que quer usar o amado vestido vermelho. Há dias que compreende que está frio, outros, em que amanhece com o vestido vermelho a esconder seu pijama.
Porque cuidar de mãe não é um ato simples.
O livro de Valter Hugo Mãe, um poema, inspira profundas reflexões.
Veja este trecho: “Quem não casa (que eu traduzo como quem cuida dos pais), deixa de ter irmãos. Só tem patrões.” Juro que antes de ler o livro, já identificava, secretamente, os patrõezinhos da família, os que opinam sem conhecer a realidade, as necessidades e os cuidados. E a estes também precisamos acolher, por ela.
Há também os que agregam, que perguntam como está você? Nestes que me amparo e me fortaleço para seguir.
Voltando ao livro, Valter Hugo Mãe fala de um cuidado amoroso, de dedicação, de gostar de enfeitar, de vê-la feliz. E quem cuida sabe que estar próximo de um familiar em seu momento de maior vulnerabilidade, lidar com a nossa impotência ante a finitude da vida exige muito AMOR. Sem ele não seria cuidado.
O amor encabeça outros sentimentos que nos são exigidos: tolerância, dedicação, paciência, empatia, compaixão. Colocar-se no lugar do outro e buscar conforto e qualidade de vida no possível, sem julgar merecimento.
Hoje, percebo o privilégio deste cuidado, e a partir dele, poder refletir sobre quem somos, nossa relação com as pessoas, nosso papel no mundo e, sobretudo, nosso próprio processo de envelhecimento e finitude.
4 comentários
Cida querida, que linda reflexão…
Obrigada por existir em minha vida e compartilhar tantos conhecimentos profundos!
Beijo no ❤️
Me emocionei!!!!!
Que Deus maravilhoso é esse que criou criaturas assim, puro amor…
As duas vieram trilhar caminhos juntas, dando e recebendo muito amor.
Quem dera todos pudessem conhecer amor assim…
Deus contigo Cida, filha, mãe, instrumento de amor…
Olá Cida Costa,
seu texto continua linear, leve e carrega sentimentos nobres. Gratidão
Beijos
Há 2 meses minha mãe adormeceu, foi um processo de aproximadamente 3 anos. DEUS em sua sabedoria perfeita, estabeleceu que as dinâmicas das famílias fossem essa: chega o tempo em que somos pais de quem um dia fomos filhos.
Obrigada pela matéria.
Ana