Livro OLHOS D’ÁGUA de Conceição Evaristo

por Mª Aparecida Costa

Há algum tempo tenho ouvido falar da escritora Conceição Evaristo, mulher negra, nascida em uma comunidade em Belo Horizonte, que precisou conciliar estudo com o trabalho de empregada doméstica. Imensurável sua luta, indizível seu mérito, seu percurso até tornar-se Mestra e Doutora em Literatura e nos presentear com suas palavras profundas, poéticas, realistas.

Entre suas obras, encontra-se o livro Olhos D’Água, sugestão do mês pelo nosso Grupo de Leitura. Longe dos finais felizes dos contos de fada, em seu livro, a morte se faz presente, assumindo descaradamente o papel de protagonista na maioria de seus contos.

As narrativas do livro são feitas em primeira pessoa, histórias de ficção-verdade contadas por personagens-pessoas, mulheres, filhas, jovens… inseridos em uma mesma realidade:

“Lembro-me ainda do tremor da minha mãe nos dias de chuva. Em cima da cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço. E com os olhos alagados de prantos balbuciava rezas à Santa Bárbara, temendo que o nosso frágil barraco desabasse sobre nós. E eu não sei se o lamento pranto de minha mãe, se o barulho da chuva… sei que tudo me causava a sensação de que a nossa casa balançava ao vento. Neste momento os olhos da minha mãe se confundiam com os olhos da natureza. Chovia, chorava! Chorava, chovia!”

Conceição Evaristo empresta sua voz a tantos corpos silenciados, à seus amores que vivem sob as regras da desigualdade e da violência. Ela, generosamente empresta sua voz à tantas outras, emudecidas pela dureza da vida, pela proximidade da morte.

Mas também nos convida a deixar este papel inativo de telespectador que por vezes faz uso da toga do juiz para julgar uma realidade que não conhecemos. Convida-nos a olhar com EMPATIA as injustiças sociais que se perpetuam em nosso País.

Convida-nos a, quem sabe, olhar pessoas e manchetes com outra visão, compreendendo que inclusão, oportunidades iguais é um exercício de cidadania, e que justiça social faz bem e promove pessoas, eleva povos.

Gratidão a você, Conceição Evaristo!  

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