Há algum tempo tenho ouvido falar da escritora Conceição Evaristo, mulher negra, nascida em uma comunidade em Belo Horizonte, que precisou conciliar estudo com o trabalho de empregada doméstica. Imensurável sua luta, indizível seu mérito, seu percurso até tornar-se Mestra e Doutora em Literatura e nos presentear com suas palavras profundas, poéticas, realistas.
Entre suas obras, encontra-se o livro Olhos D’Água, sugestão do mês pelo nosso Grupo de Leitura. Longe dos finais felizes dos contos de fada, em seu livro, a morte se faz presente, assumindo descaradamente o papel de protagonista na maioria de seus contos.
As narrativas do livro são feitas em primeira pessoa, histórias de ficção-verdade contadas por personagens-pessoas, mulheres, filhas, jovens… inseridos em uma mesma realidade:
“Lembro-me ainda do tremor da minha mãe nos dias de chuva. Em cima da cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço. E com os olhos alagados de prantos balbuciava rezas à Santa Bárbara, temendo que o nosso frágil barraco desabasse sobre nós. E eu não sei se o lamento pranto de minha mãe, se o barulho da chuva… sei que tudo me causava a sensação de que a nossa casa balançava ao vento. Neste momento os olhos da minha mãe se confundiam com os olhos da natureza. Chovia, chorava! Chorava, chovia!”
Conceição Evaristo empresta sua voz a tantos corpos silenciados, à seus amores que vivem sob as regras da desigualdade e da violência. Ela, generosamente empresta sua voz à tantas outras, emudecidas pela dureza da vida, pela proximidade da morte.
Mas também nos convida a deixar este papel inativo de telespectador que por vezes faz uso da toga do juiz para julgar uma realidade que não conhecemos. Convida-nos a olhar com EMPATIA as injustiças sociais que se perpetuam em nosso País.
Convida-nos a, quem sabe, olhar pessoas e manchetes com outra visão, compreendendo que inclusão, oportunidades iguais é um exercício de cidadania, e que justiça social faz bem e promove pessoas, eleva povos.
Gratidão a você, Conceição Evaristo!