Por que te calas, menina mulher?

por Mª Aparecida Costa
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Amo flores, todas elas, sua beleza me desperta para a vida, para o desejo de cultivá-las como forma de colorir meu quintal, meu dia, meu mundo.

Em casa cultivamos várias delas, menos a tulipa que com sua beleza exótica lança a mim o desafio e a frustração em não conseguir fazê-las florescer. País tropical, terra quente, dificuldade no seu manejo me faz contentar em tê-las, em tom rosa, pintadas em tela.

Acordo pela manhã e olho para as tulipas pensando nas meninas, meninas mulheres, mulheres meninas que também enfrentam desafios para sobreviver com todo seu esplendor em terras áridas, marcadas por esta desigualdade INSANA entre homens e mulheres.

Menina mulher tulipa” por que ainda te calas diante de agressões sutis ou escrachadas? Por que assumes culpa por ações agressivas, desrespeitosas de outros? Por que te envergonhas em contar para outras meninas mulheres? Por que você, menina mulher julga com tamanha facilidade o sofrimento de outras meninas que não difere do teu?

Educação castradora ensina meninas a recuarem, a viverem com medo e na sua dualidade ensina meninos a avançarem o sinal com semáforo vermelho. Educação de avós, das antigas, perpetuadas geração a geração e reproduzidas quase inconscientemente por meninas, jovens meninas.

Imagem de Sven Lachmann por Pixabay

Toques não desejados, palavras impróprias, convicção de que a última palavra deva ser a masculina, ação por instinto, olhares constrangedores. Não é a intensidade dos fatos, mas os sentimentos negativos que esta masculinidade tóxica desperta nas mulheres.

Mesmo bêbadas, nuas ou vestidas com pouca roupa, nosso corpo é nosso templo, nosso emocional é nosso forte e nosso esplendor deve ser cultivado para um florescer alegre e colorido a enfeitar o mundo de mulheres, meninas, crianças, homens.

Por que silenciar? Por que não engrossar a voz com a garganta de outras mulheres? Não é pessoal, não é individual, diz respeito à muitas mulheres, à todas as mulheres (e aos homens de bom senso também).

Há meninas mulheres que gritam, fazem coreografias clamando por direito, respeito e liberdade. Vejo aos poucos, as “meninas tulipas” descobrirem que sua sobrevivência em solo árido apenas se sustentará quando sombreadas e apoiadas umas nas outras.

Este é o meu, o seu, o nosso desafio.

Por Maria Aparecida Costa

Assistente Social e Educadora em Saúde Pública com especialização em Gerontologia

Capa: Imagem de FrankySyggy por Pixabay

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