Quem já foi uma mulher invisível sabe que esse não é um superpoder

por Mª Aparecida Costa
publicado em: atualizado em:

Texto escrito pela jovem Vanelli Doratioto, retrata a vida de muitas mulheres da nossa geração que viveram – e ainda vivem – na invisibilidade de vidas focadas apenas no outro.

Leitura rica, cheia de pontos para reflexão e que vale muito a pena!

Leiam com carinho!

Tantas mulheres invisíveis caminham por aí. Essas mulheres engolem o riso e balançam a cabeça para coisas com as quais não concordam.

Elas tiram o batom dos lábios, trocam de calçadas para não trombarem com velhos amigos e carregam fardos pesados que não são delas.

Elas penduram quilos de roupa no varal, às vezes, bem tarde da noite. Elas se empenham em ser boas cozinheiras, não porque gostam, mas porque alguém disse que elas precisavam saber cozinhar bem. Elas se afogam em lágrimas, sem que ninguém note. Quase ninguém fala delas. É que o mundo costuma esquecer das mulheres mal casadas.

Uma mulher mal casada desaparece e fica invisível. Uma mulher mal casada é uma vela branca que queima no altar da vida. Morre a solteira e vem a mulher que tem que carregar o mundo nas costas. Morre a solteira e vem a mulher que tem que ter horário pra ir e voltar. Que tem ao lado alguém que costuma dizer coisas absurdas sobre a vida dela ou que a ignora de vez.

A mulher mal casada sangra litros silenciosamente e colhe ingratidão onde planta amor. Ela engole a vontade de jogar conversa fora pois, infelizmente, tem ao lado alguém que torce contra ou simplesmente não se importa.

Ninguém pensa em estender a mão para a mulher mal casada. Ninguém pergunta da mulher mal casada. Perguntam da casa, das finanças, do Papa. Essa é uma mulher apartada de si. Um ser que tem a agenda cheia de afazeres e que deve satisfazer exigências e vontades de outros.

Mas um dia, um belo dia, a mulher mal casada acorda. Alguma coisa muda dentro dela e ela lembra subitamente de quem era antes de ser soterrada por uma avalanche de desgostos.

Esse momento é quase divino, apesar de muito silencioso. É nele que essa mulher descobre a força que tem e decide, corajosamente, lutar por si. É nesse momento, sublime, que ela levanta diante dos olhos incrédulos daqueles que juravam que ela ficaria sentada pra sempre.

Essa mulher vai embora como a personagem do livro de Ann Tyler, Ladder of Years, que sai para caminhar na praia com míseros dólares nos bolsos e não volta mais.

Essa mulher quando acorda tem uma ânsia de se encontrar que não pode ser contida. Ela busca afoita consolo nos braços seus e se entrega de corpo e alma a si. Essa mulher tão corajosa, cura as próprias feridas e descobre em seu interior grandes poderes que nem de longe lembram a tão gélida invisibilidade.

Por: Vanelli Doratioto

Alcova Moderna

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6 comentários

Neusa 05.jan.2020 - 21:35

Amei este texto,caiu como uma luva sobre mim, pois foi o que vive até nove meses atrás, então acordei pra vida e chutei o pau da barraca, estou muito mais feliz agora,agora me sinto viva,estou me amando muito mais agora.

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Mª Aparecida Costa 06.jan.2020 - 05:38

Neusa, adoro quando publicamos um post que contribui para a identificação de alguém. Fico muiiito feliz em ler um pedacinho da sua história. Obrigada por participar. Muita luz e prosperidade em sua vida!! Abração!

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Neli 06.jan.2020 - 17:08

Perfeito!
Essa é minha história!
Sabe qdo acordei?
Quando fui parar na UTI …
Percebi que estava morrendo…
Ninguém se importava e nem me poupava!
Estou à caminho da minha liberdade!

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Mª Aparecida Costa 07.jan.2020 - 00:16

Que maravilha Neli!! Parabéns!! Mande notícias dos seus avanços!! 🥰 Abração!!

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EDNA SANTANA 07.jan.2020 - 09:16

Amei o texto, ai está toda verdade do dia a dia da maioria das mulheres; E agora lendo esse texto que vejo que falto chuta vários paus da barraca. Obrigado Mª. por escrever esses textos maravilhosos, que nos fazem abrir os olhos de mulheres como EU, que pensava que sendo omissa a minha felicidade estava sendo boa para alguém, só agora através dessas leitura acordei e vi que tenho que ser primeiro feliz. Obrigado.

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Mª Aparecida Costa 08.jan.2020 - 06:17

Edna, minha linda, eu que agradeço por participar do blog e por colocar sua opinião. O texto foi escrito por uma jovem chamada Vanelli Doratioto. Eu o publiquei com a autorização dela justamente por perceber que faria eco nos corações de muitas mulheres. Reflita sobre o texto com calma! Sinta seu coração e permita que ele se expresse, todos os dias, um dia por vez. As mudanças em sua vida ocorrerão naturalmente! Me manda notícias? Quero muito saber dos seus avanços! Beijos em seu coração!

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