O equilíbrio está em descobrir o jogo de corpo que nos mantenha em pé na corda bamba da vida

por Mª Aparecida Costa

Nos contos de fadas, ouvimos enternecidos os momentos em que o príncipe montado em seu cavalo branco chega enunciando a felicidade plena e eterna para a linda e romântica mocinha. Na ingenuidade da infância, quantas vezes fechamos os olhos e nos imaginamos no papel de príncipe ou princesa aguardando a felicidade trazida pelo ser iluminado?

Com os contos, com as pessoas que nos cercaram, aprendemos a olhar para fora acreditando que tudo o que precisamos para a nossa felicidade está fora de nós, aprendemos a colocar a responsabilidade por nosso bem estar no externo, em outras pessoas ou situações.

Por vezes nos enchemos de expectativas fazendo ao outro o que esperamos que ele, em retribuição nos faça. Amor em bumerangue, que vai e volta na mesma proporção é, para muitos de nós, uma ilusão que insistimos em perseguir.

Ficamos com esta herança invisível – é difícil acreditar que a felicidade está dentro de nós mesmos. É difícil aceitar que só posso e consigo ser feliz quando consigo fazê-lo por mim mesmo.

Quanto mais me dedico apenas ao outro, mais me afasto de mim e das minhas próprias realizações. Quanto mais nos afastamos de nós, menos chances temos de viver em harmonia.

“Há equilíbrio quando cuido primeiro de mim. Esta é uma das condições humanas para estar apto a cuidar de outras pessoas. Quando cuido do outro sem limites, não consigo cuidar de mim e como consequência não consigo cuidar do outro.

José Bernardo Magalhães, Psicanalista

A cura dos nossos problemas não está nas palavras que ouvimos, no encorajamento do amigo, naquele boa noite que ansiamos, nos cursos ou palestras que assistimos, ou nos lugares que vamos.

De fora pegamos o combustível, na relação com outros humanos e com o universo encontramos a fonte que nos inspira ao autoconhecimento e a busca de nossas verdades.

A solução dos nossos problemas está nas coisas que dizemos a nós mesmos – na humildade com que percebemos, elaboramos e perdoamos as nossas imperfeições.

Na forma corajosa e verdadeira com que conseguimos acolher as nossas dores, reconhecendo que nem sempre somos assim tão bonzinhos ou tão inocentes.

“Dissimular as próprias dificuldades é enganar a si mesmo. Precisamos compreender que enveredar por caminhos de auto desculpas ou auto piedade não se transforma em escola para ninguém.”

A cura para o nosso equilíbrio está em descobrimos o jogo de corpo que nos mantenha em pé na corda bamba da vida e na forma amorosa com que investimos em nosso potencial humano.

Aprendo quando consigo perceber onde estão as minhas dificuldades, meus limites, possibilidades e os caminhos disponíveis para mim. Verdade! Verdadeira! Mas pouco produtivo é termos mil oportunidades de aprendizados quando não conseguimos interiorizar nenhum deles!

Estar em equilíbrio é mais fácil para algumas pessoas, para outras o processo de auto conhecimento e a busca por mais independência emocional podem tornar-se caminhos dolorosos, exige sair de uma zona de conforto em que permanecemos por anos.

É preciso esforço diário, é preciso compreender e saber pedir ajuda quando e sempre que necessário. Um papo sincero com um amigo, a prática da meditação, da gratidão, leituras edificantes, religiosidade, terapia, são caminhos que podem nos ajudar sempre!

Não há tempo e nem finitude para o crescimento. E na dinâmica da vida depois dos 50, 60, 70 anos (mais que nunca) precisamos estar atentos para tantas mudanças, filhos que partem, aposentadorias, perdas, separações… o que nos coloca em prova e chacoalha para a necessidade de nos adaptarmos e procurar novas formas de viver em paz e com maios sensação de estar completo.

Trazer a responsabilidade pela felicidade para nós mesmos é a meta e o caminho é compreender nossos sonhos e desejos mais profundos, acolhendo, fazendo os reparos necessários e compreendendo que a nós podemos amar, bastar e mudar, hoje e sempre!

Por Maria Aparecida Costa

Assistente Social e Educadora em Saúde Pública

Especialização em Gerontologia

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