Era sábado à tarde em um grupo de estudos, estávamos absortos debatendo um tema quando uma senhora amiga rompe com sua costumeira discrição, pula uma cadeira vazia e, apreensiva, cochicha no meu ouvido:
Estou me preparando para rezar muito e não ficar doida porque minha filha vai passar duas semanas de intercâmbio no Canadá…
Quando está em casa e sai à noite ela não gosta que eu fique preocupada e nem que fique telefonando…
Aprendi a sentar na minha cama, rezar e a entregar à Deus. Mas como vou fazer com ela tão longe, num lugar que nem conheço… quantas vezes tenho que rezar por dia para não ficar doida?!
Seu comentário nem precisa resposta, basta um olhar de cumplicidade, um sorriso em que acolho a sua alma. Mães se compreendem!! Naquele instante lembro da frase do Pequeno Príncipe: Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante*…
Todo o cuidado na infância, desde o primeiro banho, o toque, o preparo dos alimentos, a garantia de silêncio para uma boa qualidade de sono não cessa quando o filho cresce, não se esvai como o leito de um rio desviado por barragem. Muda o foco, mas não muda a essência. Crescem os filhos, muda a forma da atenção, muda a organização da família mas não muda o amor e nem o cuidado que agora pode ser recíproco.
Aprendi ao longo da vida que momentos de completude e felicidade podem ser sentidos em situações de extrema simplicidade. O mesmo sentimento de estar completa e feliz quando consegui comprar (depois de muito procurar) as fivelas que precisava para a roupa das meninas crianças, sinto hoje quando me ligam e dizem: estou no maior trânsito, quer me fazer companhia pelo telefone? Ah, quero sim, quero saber como você está e tudo o que está acontecendo em sua vida!
Isso não é controle, nem carência ou descrédito. É apenas um compartilhar de amor e cuidado. Um gesto simples, um telefonema, um almoço, um abraço, um cuidado, um olhar com empatia para as preocupações e possibilidades do outro tem a magia de fazer felicidade e trazer otimismo. É como trazer luz, como plantar sementes de cuidado e produzir vida!
Acredito no diálogo entre adultos e na possibilidade de romper paradigmas e acreditar que a frase: Quando você tiver seus filhos você vai me entender não precisa ser dita. É preciso reinventar as relações com os filhos crescidos, estimular relações de empatia na família – aprender a sentir com o sentimento do outro, a ver o mundo com o coração do outro.
Ora, se os pais precisam crescer com as mudanças e compreender que pássaros crescidos precisam ir, os filhos precisam ter maturidade para compreender que liberdade e autonomia não se compromete com um telefonema, uma notícia, uma frase: durmam tranquilos que eu estou bem!
Que se possa encurtar caminhos e não precise esperar tanto!
*Antoine de Saint-Exupéry