Síndrome do Ninho Vazio: Como Conversar com os filhos?

por Mª Aparecida Costa
publicado em: atualizado em:

Pude compreender o choro incontido da minha mãe na cerimônia do meu casamento 25 anos depois, no casamento da minha filha mais velha.

Ao ver o carro se distanciar levando a mudança da minha  filha me veio a memória, como em um flash, o rostinho da  minha mãe, a forma como chorou no meu casamento e como eu não compreendia aquele choro em um momento de grande realização para mim.

Essa percepção me fez entender como os sentimentos são diferentes para os pais e para os filhos. É claro que os filhos também vão com saudades e preocupação. Estão deixando a segurança e o cuidado do lar rumo ao desconhecido, porém estão conscientes e optam pela independência e construção da  própria história.

É importante para nós conseguir falar para o filho sobre a saudade e o vazio que ele deixa quando sai e é igualmente importante o apoio do filho nesse momento da separação, mas como falar com ele sem deixá-lo culpado?  Como falar de saudades sem que o filho sinta-se amarrado? Se para nós está difícil, é importante nos prepararmos para isso, conversando com outras pessoas, elaborando nossos sentimentos para depois conversar com os filhos sobre o assunto.

Os filhos são diferentes, embora criados com a mesma concepção de mundo. Nem todos conseguem falar da mesma forma e com a mesma tranquilidade. Falar sobre esse sentimento nem sempre é fácil porque ele está envolvido com a situação, ele também está vivendo um conflito entre seguir as próprias escolhas e não entristecer os pais.

Os pais também são diferentes e se expressam de forma diferente, porém precisamos pensar nos argumentos quando falamos com os filhos. E se também não está claro para a gente o equilíbrio entre estar feliz com as oportunidades que surgiram na vida do filho e a nossa saudade, como dar um rumo para essa conversa?

Nós também fomos filhos e um dia saímos de casa. E não saímos de casa porque estávamos infelizes ou abandonando nossos pais. Saímos de casa, na maioria dos casos, por uma questão de cumprimento do próprio ciclo da vida:  Nascemos,  Crescemos, Casamos (ou não) e Seguimos a própria Vida.

Dos nossos pais ficou a lembrança do cuidado e do aconchego. Da casa que nos recebe e acolhe… mas da casa deles. Temos agora nossa própria casa.

O sentimento é cego, as vezes parece meio surdo e cabe a nós dar uma direção à ele. O sentimento de abandono que ficamos e a sensação de incompletude, de desacerto precisam ser revistos. Precisam receber luz.

Podemos falar de saudade, podemos demonstrar ao filho o quanto faz falta, mas precisamos que ele perceba que é livre para seguir. E que para isso terá todo nosso apoio.

Nós que passamos a vida cuidando deles, precisamos pensar que o cuidado hoje é que eles percebam que vamos ficar bem.

E vamos mesmo. Há muitas coisas para fazer nesse planeta.

Para saber mais, leia:

Minha mãe que disse! A precoce Síndrome do Ninho Vazio

FeMMaterna: Encarando com leveza a Síndrome do Ninho Vazio

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3 comentários

Tânia 30.nov.2013 - 22:01

Isso mesmo, hora de reprogramar a vida, criar outras ocupações, distrações, redirecionar o sentido de nossas vidas e se estivermos bem, com certeza eles também estarão.

Responder
Mª Aparecida Costa 30.nov.2013 - 22:20

Tania, concordo com vc! Eles ficarão bem se souberem que estamos tocando nossas vidas e nós ficaremos bem se percebermos que eles estão bem.
É bom demais tudo isso.
Obrigada pelos comentários!

Responder
Maria da Gloria 04.nov.2016 - 08:05

Essa mensagem me fez lembrar deste texto do ninho vazio

Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem
a proteção do ninho. Eu mesmo sempre os empurrei para fora.Sei que é
inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas.

Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique
como o ninho abandonado no alto da palmeira… Mas, o que eu queria,
mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo…

Existem muitos jeitos de voar. Até mesmo o vôo dos filhos ocorre por
etapas. O desmame, os primeiros passos, o primeiro dia na escola, a
primeira dormida fora de casa, a primeira viagem…

Desde o nascimento de nossos filhos temos a oportunidade de aprender
sobre esse estranho movimento de ir e vir, segurar e soltar, acolher e
libertar. Nem sempre percebemos que esses momentos tão singelos são
pequenos ensinamentos sobre o exercício da liberdade.Mas chega um
momento em que a realidade bate à porta e escancara novas verdades
difíceis de encarar. É o grito da independência, a força da vida em
movimento, o poder do tempo que tudo transforma. É quando nos damos
conta de que nossos filhos cresceram e apesar de insistirmos em ocupar o
lugar de destaque, eles sentem urgência de conquistar o mundo longe de
nós. É chegado então o tempo de recolher nossas asas. Aprender a abraçar
à distância, comemorar vitórias das quais não participamos diretamente,
apoiar decisões que caminham para longe. Isso é amor.

Muitas vezes, confundimos amor com dependência. Sentimos erroneamente
que se nossos filhos voarem livres não nos amarão mais. Criamos
situações desnecessárias para mostrar o quanto somos imprescindíveis.
Fazemos questão de apontar alguma situação que demande um conselho ou
uma orientação nossa, porque no fundo o que precisamos é sentir que
ainda somos amados.

Muitas vezes confundimos amor com segurança. Por excesso de zelo ou
proteção cortamos as asas de nossos filhos. Impedimos que eles busquem
respostas próprias e vivam seus sonhos em vez dos nossos. Temos tanta
certeza de que sabemos mais do que eles, que o porto seguro vira uma
âncora que impede-os de navegar nas ondas de seu próprio destino.

Muitas vezes confundimos amor com apego. Ansiamos por congelar o tempo
que tudo transforma. Ficamos grudados no medo de perder, evitando assim o
fluxo natural da vida. Respiramos menos, pois não cabem em nosso corpo
os ventos da mudança.

Aprendo que o amor nada tem a ver com apego, segurança ou dependência,
embora tantas vezes eu me confunda. Não adianta querer que seja
diferente: o amor é alado.

Aprendo que a vida é feita de constantes mortes cotidianas, lambuzadas
de sabor doce e amargo. Cada fim venta um começo. Cada ponto final abre
espaço para uma nova frase.

Aprendo que tudo passa menos o movimento. É nele que podemos pousar nosso descanso e nossa fé, porque ele é eterno.

Aprendo que existe uma criança em mim que ao ver meus filhos crescidos,
se assustam por não saber o que fazer. Mas é muito melhor ser livre do
que imprescindível.

Aprendo que é preciso ter coragem para voar e deixar voar.

E não há estrada mais bela do que essa.

Rubem Alvez

Autor: Rubem Alvez

Autor desconhecido

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