Mediando conflito entre irmãos

por Bárbara Bezerra

Nesta matéria, trago uma sugestão de mediação de conflitos entre 2 irmãos descrita por Marshall Rosenberg, autor do livro comunicação não-violenta.

Marshall descreve: Eu ia fazer um trabalho em uma escola dos Estados Unidos e a organizadora do treinamento que era integrante do conselho da escola me disse: Marshall eu espero que você não se incomode por eu ter feito uma mudança no seu cronograma. Seu intervalo para o almoço vai durar 2 horas e meia e eu gostaria que você fizesse uma mediação entre meus dois irmãos. Eles não se falam há 8 anos e brigam na justiça para ver quem herda o patrimônio do meu pai quando ele se aposentar, mas eu os convenci a se encontrarem aqui com você. Você poderia fazer essa mediação?

O caso foi para o tribunal. Os advogados e os 2 irmãos não conseguiram se entender. Eu tinha duas horas e meia de almoço e ela me deu um sanduíche enquanto eu mediava a questão. Eu estava na sala com os 2 irmãos, suas respectivas esposas, a mãe, o pai e a irmã que havia organizado o encontro.

Então comecei da seguinte forma:

— Estou certo que podemos entender as necessidades de cada um e resolver esta questão. Seja lá quem for começar quero ouvir suas necessidades. Mas eu achava que eles não conseguiriam me falar as suas necessidades porque a maioria das pessoas só sabe ver a outra como inimigo.

Daí o irmão mais velho diz ao mais novo: Por que você deve ficar com a outra metade da propriedade? Você só ficava com seus amigos e nunca nos respeitou quando estávamos trabalhando.

E o irmão mais novo respondeu:

— Vocês só conversavam entre si e nosso pai nunca se importava comigo. Você sempre foi o filho favorito dele.

Eles começaram a gritar e eu comecei a falar: — Com licença, com licença!

Quando tenho pouco tempo para mediar conflitos como este eu aprendi a acelerar a mediação. Perguntei ao irmão mais velho se eu podia interpretar o papel dele e ele me disse que tudo bem.

E eu já fazia ideia das necessidades dele por trás das suas acusações. Agora com ouvidos de girafa (da empatia) e no papel do irmão mais velho eu disse: Irmão, você gostaria de ser compreendido o quanto se sente magoado por não ter recebido a atenção que gostaria, do pai e de mim?

O irmão mais novo ficou muito comovido. Ele desejava essa empatia há anos! Ele disse: — sim! E completou com outras frases.

Depois eu olhei para o irmão mais velho e ele estava com lágrimas nos olhos. Ele nunca entendeu que essa era a necessidade por trás das mensagens do irmão mais novo. Ele só ouvia críticas!

Depois eu interpretei o irmão mais novo. Fui empático com o irmão mais velho e ouvi suas necessidades. Então eu consegui fazer com que um ouvisse as necessidades do outro sem diagnósticos ou críticas.

O meu tempo havia acabado e eu precisava voltar ao meu workshop.

Não consegui chegar na próxima etapa que seria: agora que ouvimos a necessidade de cada um, quais as estratégias que podemos utilizar para atendê-las? Não houve tempo!

Na manhã seguinte quando eu estava indo para o meu workshop, o pai dos irmãos me esperava do lado de fora. Com lágrimas nos olhos, agradeceu o que havia acontecido no dia anterior e disse: — Marshall depois daquela sessão conosco, saímos para jantar em família pela primeira vez depois de 8 anos e resolvemos o conflito durante o jantar.

Enfim, haviam advogados e o caso já durava meses, mas depois que um ouviu as necessidades do outro não foi tão difícil resolvê-lo.

Bárbara Bezerra
Cirurgiã Dentista, mãe do Gabriel e esposa do Fernando, estudiosa da comunicação não-violenta e que tem como hobby fazer caminhada e ler livros.

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