Hoje quero compartilhar uma situação que vivi com uma paciente semana passada: como dentista, eu precisava provar uma prótese dentária em sua boca, porém a prótese não chegou e não havia tempo hábil para avisá-la e remarcar a consulta.
A angústia que senti naquele momento foi de pensar em sua reação. E porque eu estava tão aflita? Porque já havia a atendido em várias consultas e sabia que ela nutria a esperança de terminar o tratamento pois faziam mais de três anos que ela havia começado. E de fato eu a entendia.
Este lugar que atendo é um curso em que os pacientes pagam mais barato, só que acabam se submetendo a um tempo mais prolongado de duração do tratamento.
Ela chegou e começou a falar que sua saúde estava precária, que seus exames médicos estavam alterados e eu fui ouvindo-a pacientemente. Depois que ela “esvaziou” esse assunto, eu disse: — Nossa dona A. estou super chateada porque fiquei sabendo há pouco que sua prótese não chegou e eu não tive tempo de te avisar. Precisamos marcar uma nova consulta.
Quando eu disse isso a expressão de decepção no rosto dela foi visível e ela começou a dizer como já estava cansada da demora no tratamento, o quanto isto a impedia de ver a filha que estava longe e ela sentia saudades, não sabia nem se estaria viva até o término do tratamento…
Sinceramente eu ouvi as colocações dela com toda a compaixão que eu poderia oferecer. Vi nela o rosto de uma mulher sofrida que só busca ser feliz. Poderia ter focado em meus sentimentos e necessidades e até mesmo ter ficado frustrada com esse atendimento, esperando compreensão dela em relação a mim e ao meu esforço de estar presente em todas as consultas que ela veio, atendendo-a no horário combinado e fazendo o melhor que poderia fazer por ela.
Mas sinceramente não precisei buscar em mim o que eu precisava. Apenas a ouvi sem julgamentos, oferecendo amor, compreensão e compaixão.
E o resultado foi incrível para mim. Eu saí até mais leve depois da nossa conversa, diferentemente de como eu me sentiria se focasse no quanto ela poderia ter sido compreensiva comigo.
Bárbara Bezerra
Cirurgiã Dentista, mãe do Gabriel e esposa do Fernando, estudiosa da comunicação não-violenta e que tem como hobby fazer caminhada e ler livros.
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