Precisamos falar mais sobre BULLYING e SUICÍDIO

por Mª Aparecida Costa
publicado em: atualizado em:
Por: Marina Akemi Ono Sacoman

No sábado dia 23/05/2020, Hana Kimura, 22 anos, lutadora profissional de luta livre da liga feminina do Japão e integrante de um reality show bem popular da Netflix, suicidou-se.

Hana estava sob pressão psicológica intensa causada por um bombardeio de mensagens virtuais com palavras de ódio e repulsa. Hoje, na televisão mostraram mensagens que passou a receber após uma briga ocorrida com um dos integrantes do reality show.

É muito fácil julgar um ato de acabar com a própria vida por não ter conseguido suportar mensagens vindas de estranhos. Ela mesmo, antes do ato, postou desculpas por ser uma pessoa fraca e não ter suportado.

Precisamos tomar cuidado com os julgamentos e respeitarmos as diferenças de tolerâncias de cada um, além de muitas vezes não conhecermos como esta pessoa sentiu e o que viveu ao longo de sua vida.

A mãe de Hana era lutadora e ela se profissionalizou, como a mãe, aos 18, mas já sofria muito preconceito por ser lutadora. Por mais que se orgulhasse da profissão, tinha receio de contar a qualquer um, receava não ser vista como uma moça qualquer de sua idade.

O temperamento mais explosivo e impulsivo trazia características de certa imaturidade emocional, muito comum na adolescência e no jovem adulto.

Nas redes sociais e no reality show, dava sinais de sua baixa autoestima, uma certa disforia (um misto de sentimentos de raiva, tristeza e irritabilidade), além de culpa.

Muitas pessoas próximas tem postado estarem em choque mas sobretudo sentindo-se culpados por perceberem que ela estava em intenso sofrimento e não conseguiram dar o suporte necessário.

Acho importante escrever mais sobre o tema para, de alguma forma, contribuir para a prevenção ao suicídio decorrente de situações de bullying, neste caso, cyberbullying.

Imagem de Linus Schütz por Pixabay

Existem muitos fatores estressores e doenças mentais que levam ao suicídio ou tentativas, mas hoje, quero atentar os pais e familiares dos jovens que atualmente, vivem mais o mundo cibernético.

São muito comuns as violências psicológicas cometidas em ambiente virtual chamadas de (situações de humilhação, chantagens, ameaças, perseguições, etc). Ocorre que este tipo de bullying pode causar um efeito estressor muito maior que o físico, já que pode se tornar constante (sem horário, local e frequência determinados) e também porque a criança ou o jovem desconhecem o real poder de quem os atacam, já que estes agressores, por muitas vezes são anônimos ou com perfis falsos.

Esses ataques são extremamente prejudiciais, já que os adolescentes e muitos jovens adultos (entre 18 e 24 anos mais ou menos), estão mais suscetíveis a serem impulsivos e imediatistas, por ainda não terem desenvolvido totalmente a maturidade emocional.

Alguns adultos com mais idade também podem ter essa maturidade prejudicada por problemas vividos na infância e adolescência.

Imagem de Alexas_Fotos por Pixabay

Sempre há sinais importantes que podem ser percebidos:

OBSERVE

Alterações de personalidade, hábitos e comportamentos, se há baixo desempenho na escola/trabalho, perda de habilidades sociais, isolamento, alterações de sono e apetite, perda de prazer nas coisas que lhe faziam bem, maior irritabilidade, tristezas, acessos de raiva e comentários negativos de autodepreciação, pensamentos desesperançosos ou de morte.

Atualmente, mesmo com dificuldade do jovem se abrir com a família ou amigos, eles conseguem dar sinais de que não estão bem através de suas redes sociais e games (como se comportam e interagem virtualmente enquanto jogam).

Nem sempre é preciso ajuda profissional do psicólogo ou psiquiatra, a não ser que haja outras comorbidades, não remissão do quadro ou dificuldade da família lidar com a situação.

Um ponto muito importante para família e amigos é VALIDAR e NUNCA MENOSPREZAR ou DIMINUIR seus comentários autodepreciativos, pensamentos negativos e/ou desesperançosos.

Muitas vezes, tendemos a julgar, achando que a pessoa está querendo atenção e que não terá coragem de acabar com sua vida, afinal se quisesse não teria anunciado e essa visão está ERRADA!

Sempre há sinais de risco e devemos considerá-las! Sentir-se compreendido, pode reduzir o sentimento de solidão e confiança para continuar expondo seus sentimentos e expandindo sua rede de apoio, além de fortalecimento para enfrentar suas dificuldades.

Claro que há situações inevitáveis, não devemos ser onipotentes no sentido de acharmos que podemos salvar vidas, mas podemos estar mais atentos às relações e sim, reduzir e até mesmo impedir que as tentativas de suicídio aconteçam, nestes casos.

Em experiência profissional, como psicóloga na Atenção Básica e no serviço especializado em Crise de Saúde mental no Brasil, vivi tudo isso na prática e o apoio familiar é sempre muito fundamental.

Se cada um cuidar de quem ama, também estará sendo cuidado por alguém, vamos conversar mais.

Descanse em paz Hana chan! Você era sim admirável, referência de força, feminilidade e graciosidade.. meus sentimentos à família, amigos e fãs,

Marina Akemi Ono Sacoman

Psicóloga e Arteterapeuta

No Brasil, atuou em diversos segmentos e na Saúde Pública. Atualmente no Japão, realiza atividades servindo a comunidade brasileira. Também atuou em projeto com parceria ao Consulado Brasileiro de Tóquio .

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