Desilusão amorosa depois dos 50, 60, 70 anos e +

Minha adolescência foi marcada pelas frases do francês Antoine de Saint-Exupéry em O Pequeno Príncipe. Em um dos trechos do livro, a raposa ensina ao menino o sentido da palavra cativar e conclui dizendo:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

Esta frase acompanhou meninos e meninas ao longo de décadas, dentro de uma visão romântica de que “é do outro a responsabilidade de despertar sentimentos em mim“.

Mas os relacionamentos não são unilaterais – é do outro a responsabilidade pelas palavras proferidas, pelos toques oferecidos, por promessas nos olhares… mas é sua a responsabilidade pelas expectativas que cria e por sonhos que acalenta. Palavras ditas ou promessas explicitas não farão eco se não encontrar um local onde se alojar em seu coração.

A desilusão amorosa não é privilégio de nenhuma faixa de idade. 🙁 Pode acontecer a qualquer momento da vida e sempre vai exigir um esforço para superá-la sem deixar marcas de desesperança.

E depois dos 50 anos? A sensação de estar envelhecendo torna mais urgente a necessidade de viver um grande amor? E a solidão que assola muitos corações torna as pessoas mais vulneráveis?

Sim e com certeza. São inúmeros os casos de pessoas mais velhas envolvidas em relacionamentos desvantajosos que lhes causam sofrimentos, prejuízos sociais, emocionais e financeiros. É preciso ser apoio para estes casos. Ouvir estas pessoas sem julgar e encaminhá-las para ajuda necessária é papel de todos nós.

Mas a desilusão amorosa não acontece apenas nestes casos. Ela nasce no descompasso do querer. Quando sonhos, desejos, sentidos e sentimentos são aguçados trazem consigo a urgência de serem vividos. Ou ao menos discutidos e elaborados com que os cativou. Mas nem sempre a realidade da vida é descrita como na obra de Antoine de Saint-Exupéry .

Muitas vezes você vai caminhar pela vida, tendo que elaborar em silêncio a efervescência de tais sentimentos e a desilusão de não serem correspondidos. Pelo menos não da forma como você gostaria.

Amor ou Amizade? Talvez para você seja Amor e para o outro apenas Amizade. Pode ser Amor e para o outro apenas Sexo ou vaidade. Natural sentir frustração e raiva, mas acredite – guardar rancor e mágoa só fará mal a você mesmo.

É hora de elaborar a frustração e encarar com sinceridade tal situação. Você pode compreender que os sonhos românticos foram sustentados mais nas expectativas que criou do que em promessas reais do outro.

“Tu és eternamente responsável por aquilo que te deixares cativar”.

Procure compreender

Diriam os mais jovens: O outro pode estar em outro “timing” e em outra “vibe“. Pode não ser o momento ideal e nem a mesma química para o outro e isto não o torna menos merecedor de nossa compreensão e amizade. Compreenda, perdoe. As pessoas oferecem o que tem e faz parte da leveza da vida compreender e aceitar a realidade de cada um.

Lamente na medida certa

É claro que qualquer desilusão gera dor e um luto que precisa ser vivido, mas deixe seu lamento do tamanho que deve ser. Evite ressentimentos, culpas, insistências, desesperanças. A vida urge e ela está cheia de oportunidades.

Retome o auto cuidado

Enquanto permite que o tempo aja e organize melhor seus pensamentos e sentimentos, cuide-se amorosamente. Avalie o quanto você se perdeu de si mesmo buscando no outro as respostas para sua essência e para sua felicidade.

Há tantas coisas maravilhosas para serem vividas, há bons momentos que podem ser vividos com você mesmo. Olhe a sua volta, retome seus caminhos mesmo que no momento pareçam fragmentados.

Dance, cante, sorria, passeie com seu animalzinho. Deixe que a vida se encarregue do curso e do livre movimento de pessoas. Olhe em seu redor, descubra… permita-se