O círculo Vicioso da Codependência

por Mª Aparecida Costa

Esta semana tive o privilégio de um encontro com a psicóloga e amiga Elizabeth Brambila, tomar um café, atualizar assuntos e assistir à maravilhosa palestra com o médico psiquiatra João Lourenço Navajas sobre Codependência. 

Codependência é o termo utilizado por profissionais de saúde ao se referirem à um relacionamento onde uma pessoa está emocionalmente ligada à outra com histórico de dependência de álcool, outras drogas ou com um comportamento problemático e destrutivo. 

Da fala do Dr. João Lourenço compreendi que a dependência às substâncias químicas não acontece do dia para a noite. O dependente vive um processo de altos e baixos, de avanços e retrocessos até que a dependência se instale. O familiar ou pessoas mais próximas participam deste processo de adoecimento e na tentativa de evitá-lo, adoecem também.

Tentam ajudar, fazer pelo outro aquilo que aparentemente ele não consegue, não pode ou não quer fazer naquele momento (talvez por ainda não ter consciência do seu processo de adoecimento). A família tenta interferir, resolver problemas, controlar o consumo da bebida, da droga e de outros aspectos da vida,frustram-se pelo insucesso mas não conseguem perceber a sua impotência diante das decisões de outra pessoa.

Os sentimentos do familiar e amigo oscilam da mesma forma que os sentimentos do dependente – alegria quando ele (ou ela) está em alta, tristeza quando não está bem e à medida que a dependência vai se instalando, podem entrar no círculo vicioso descrito na figura abaixo:

Sentem raiva por suas atitudes e reagem de forma agressiva, na sequência sentem-se culpados e tendem a facilitar a vida do dependente, resolvendo problemas que deveriam  ser à ele atribuídos. Tentam controlar suas atitudes e ante a impotência de resolver pelo outro, novamente sentem raiva, recomeçando o círculo vicioso que é normalmente permeado pelo MEDO.

O Codependente

Na relação de Codependência as pessoas sentem-se sobrecarregadas por assumir funções que o dependente deixou de fazer aos poucos e é bastante natural a presença de vários sentimentos como tristeza – alegria, euforia -frustração, esperança – descrédito.

Estes sentimentos podem ser intensos e contraditórios e na busca por ajuda, alguns recebem diagnósticos e tratamentos inadequados – como “pacientes com bipolaridade, depressão, crise de ansiedade…”  Dr. João Lourenço abordou também esta questão: “O tratamento não pode ser indicado apenas por sintomas, é preciso conhecer a história de vida de cada pessoa e poder avaliar o tratamento que melhor se adapta à cada caso”.

Mas a responsabilidade pelo relacionamento não é apenas do dependente, portanto não se deve culpa-lo e vitimizar o Codependente. Por trás da Codependência pode estar uma dificuldade em lidar com os próprios problemas, uma necessidade de controle, egoismo, medos, dificuldades de dar limites e de dizer NÃO.

E a recuperação da Codependência?

O foco da recuperação da Codependencia não está no outro. O foco tem que estar no Codependente. O problema não é a forma como o dependente age, mas a forma como o familiar reage ao jeito dele agir.

Romper com este círculo vicioso pode se tornar difícil, é preciso ter coragem,  exige disciplina, auto conhecimento e ajuda. É preciso olhar para a própria recuperação através de ajuda especializada e de grupos de auto ajuda como o Al-Anon, Naranon, MADA ou outros grupos com os quais a pessoa se identifique.

Desconectar-se do dependente de forma amorosa, permitir que ele crie suas próprias experiências, assumindo riscos e consequência é o caminho… ao mesmo tempo em que é necessário estabelecer uma relação amorosa consigo mesmo, buscando a própria direção, focando em si mesmo e priorizando o autocuidado.

Em outras palavras é preciso procurar ajuda para mudar o foco e direcionar as luzes para si próprio.

Por Maria Aparecida Costa

Assistente Social e Educadora em Saúde Pública com Especialização em Gerontologia

Dr. João Lourenço Navajas é psiquiatra e psicanalista. Atua em São Paulo- SP. Link para Contato: CooperCasa. Com seu conhecimento técnico, abordagem humanitária e uma visão ampla do ser humano encanta à todos em seus atendimentos individuais e nas palestras que realiza.

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2 comentários

Antonio Luiz dos Santos 10.dez.2018 - 17:00

Parabens, por mais esse texto, Maria Aparecida! Escrito numa linguagem simples, assertiva, e indicando caminhos. Prossegue com bom animo, inspirando a recuperação de tantos que passam por situações como as descritas!

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Mª Aparecida Costa 11.dez.2018 - 11:34

Eu que agradeço a vc pela força e por esta mensagem! Gratidão!!

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