Homoafetividade feminina – Mulheres com 50 anos e mais

por Mª Aparecida Costa
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Escrever sobre a homoafetividade é um grande desafio, especialmente para pessoas heterossexuais que desconhecem quaisquer constrangimento, discriminação ou crítica em relação à sua vida sexual.

Dos ensinamentos da infância herdamos a crença de que existe uma linha tênue e invisível que separa certo do errado, belo do feio, normal do “não normal“… aceitando ou contestando, oscilamos todos nós, entre estes extremos.

Quem nunca desenhou curvas nas linhas da própria vida?

Compreender que a linha da vida não é tão reta como se pensa, torna as pessoas solidárias o suficiente para aceitar e acolher pessoas com outras formas de viver o amor?

Não preciso vivenciar eu própria o preconceito contra os homossexuais – lésbicas, bissexuais, gays, travestis, mulheres transexuais e homens trans, para me sensibilizar. Posso me colocar no lugar do outro e isso não desafia a minha heterossexualidade.

Posso me conectar com a alma e aprender a compreender, acolher e respeitar o sentimento de uma mulher que em sua singularidade ama (e não opta por amar) outra mulher.

Se abrir os olhos da alma, posso intuir sentimentos românticos afogados na invisibilidade de um amor em que não se troca alianças e nem adjetivos carinhosos – amor, “mô”, esposa, benhê em público.

Se abrir meu coração posso perceber o constrangimento de mulheres que precisam convencer o ginecologista que seu corpo é feminino e que seu útero e mama também carecem de exames preventivos.

Com os olhos do coração consigo imaginar o que sente uma mulher quando é encarada de cima em baixo, por olhos curiosos que se fixam nos seios, como se precisassem confirmar o sexo biológico.

De alma e coração aberto posso ver – a normalidade e proximidade das mulheres lésbicas com mais de 50 anos, tendo que somar às batalhas cotidianas da vida, a construção de um relacionamento duradouro, secreto o bastante para não apresentar como companheira a parceira da sua vida.

E é nessa parceria que as mulheres experimentam cumplicidade, afinidade, amor. Nas relações homoafetivas a ligação não é apenas sexual. As mulheres constroem vínculos de afetividade e afeto independe do sexo do par.

As mulheres lésbicas com 50 anos e mais são guerreiras que romperam a rigidez da educação e o silêncio em torno da sexualidade nas famílias e mesmo sem empunhar bandeiras abriram caminhos para a marcha das mulheres das novas gerações.

E são essas mulheres mais jovens que se desinibem, assumem sua sexualidade, rompendo paradigmas e preconceitos, permitindo-se andar de mãos dadas na rua e na vida. O anel que ostentam nos dedos traduzem mais que um compromisso de amor entre duas pessoas, falam de uma força jovem que exige visibilidade e direitos de uma pessoa em sua integralidade.

Entre os direitos adquiridos estão a possibilidade de união estável, casamento civil entre outros. Vale ressaltar que na prática ainda encontram resistência de algumas instituições na garantia desses direitos. 

São pessoas, seres humanos e como tal merecem ser aceitas e amadas como ser integral não apenas por defesa de uma sociedade tolerante, mas pela compreensão de que o que atinge umas atinge às outras também.

Agradeço o apoio na revisão do texto da queridíssima Deborah Malheiros, Psicóloga da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania. Mulher de garra que coloca como pauta de vida a luta pela cidadania de outros seres humanos.

Por Maria Aparecida Costa

Para saber mais:

União Homoafetiva

Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania

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2 comentários

Maria Gedeilda Souza Ferraz 06.out.2018 - 08:33

Cida, como sempre..um texto que toca a alma, parabéns.. lindo!

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