Dicas de como entender e enfrentar o Alcoolismo entre idosos

por Mª Aparecida Costa
publicado em: atualizado em:

Na série de matérias sobre alcoolismo publicadas neste blog, recebemos alguns retornos de nossos leitores e entre eles o de uma senhora buscando informações de como agir para ajudar seu marido Gilson de 64 anos – exemplo de paternidade, parceria e profissionalismo “perdidos” para o consumo exagerado de álcool após a aposentadoria.

Com certeza sua história não é única. Em pesquisa recente o DataFolha mostrou que entre os idosos, um em cada 10 homens (9%) fazem uso de álcool diariamente. A mesma pesquisa aponta que os homens consomem mais álcool que mulheres na mesma idade.

Riscos para o alcoolismo entre idosos

São vários fatores que interferem e tornam uma pessoa mais vulnerável ao uso abusivo e dependente de álcool. Para os idosos é preciso prestar atenção no sofrimento provocado pelas mudanças no estilo de vida após a aposentadoria: inatividade, depressão, solidão, sentimentos de inutilidade, desesperança.

Para o alívio deste sofrimento alguns recorrem ao uso de medicamentos controlados, consumo de álcool ou cigarro.  Em outras palavras, a dificuldade na adaptação à essa nova fase da vida provoca um vácuo, um vazio existencial perigoso, que se não preenchido pode levar ao descontrole e tornar um hábito aquela dose de uísque com gelo todos ao findar uma jornada de trabalho.

Para a psicanálise, a inatividade física e mental leva a estados depressivos e de desprazer. A nossa mente busca compensar este desprazer através da obtenção de prazeres imediatos: alimentação (doces, sorvetes, chocolate) e drogas ( álcool, fumo, medicamentos, outras).

José Bernardo Magalhães, psicanalista

 

Foto: Pixabay

Negar que tem um problema com álcool é uma das grandes dificuldades de enfrentamento do problema e com o idoso não é diferente, negam o uso do álcool e quando o fazem referem beber socialmente, com controle total sobre a bebida, o que provoca maiores riscos à sua saúde.

Em matéria publicada pelo Blog da Saúde (link no rodapé) do Ministério da Saúde, a psicogeriatra Valeska Marinho alerta:

Nesta fase da vida, o metabolismo fica mais lento, e com isso, o fígado tem mais dificuldade para eliminar o álcool do corpo. Os demais órgãos, como estômago e pâncreas, também têm suas funções reduzidas, tornando o consumo elevado de bebidas ainda mais prejudicial. Entre as doenças relacionadas estão a depressão, demência, problemas cardiovasculares, como pressão alta, além de cirrose e diabetes.

Como enfrentar o problema?

Para a família

A família tem maior facilidade para perceber o problema e pode ser importante aliada no tratamento, adotando algumas mudanças como: reduzir o número de bebidas em casa e abordar o assunto, de forma assertiva, em momentos de sobriedade.

É importante não minimizar e encarar o problema sem medo, e se a família tiver como base o pensamento que seu familiar é a mesma pessoa de antes, buscando entender suas angústias e o universo em que o álcool ganhou forças pode ajudar na busca de soluções.

Apenas abordar o assunto e encarar o consumo excessivo de bebidas pode não ser suficiente. A partir das características de cada um é possível sugerir atividades, cursos, espaços de lazer em que a pessoa sinta-se útil e ativa e o consumo do álcool possa ir se tornando secundário.

Planeje ações conjuntas, mas com a consciência de que a mudança no agir da família não provocará as mudanças necessárias para o outro. A transformação somente ocorrerá se a pessoa desejar e caminhar em direção à elas.

Enquanto cuidamos, é preciso procurar ajuda para si mesmo, através de atendimento profissional com equipe de saúde mental ou conversando com pessoas com o mesmo problema, através de grupos de autoajuda como o Al-Anon.

Para saber o tamanho do esparadrapo é preciso saber o tamanho da ferida

O tratamento do alcoolismo independe da idade. Para buscá-lo é preciso antes reconhecer que tem um problema com o álcool, perceber o descontrole em sua vida e vencer o constrangimento de pedir ajuda. Existem várias possibilidades de tratamento em serviços de saúde, psicólogos, psiquiatras e através do grupo de Alcoólicos Anônimos (link no rodapé).

Parafraseando o trecho da música dos Titãs – É PRECISO SABER VIVER e buscar ser resistente e resiliente na maturidade. Reinventar a vida após a aposentadoria, investindo em antigos e criando novos projetos que estimulem a mente, o espírito e o corpo.

Não importa quais serão estes projetos, importa apenas que o estimule e traga novas fontes de prazer. O tempo, o prazer e a dedicação ao trabalho precisam ser redistribuídos, substituídos, ressignificados.

É preciso sonhar de novo e de novo!

É Preciso Saber Viver – Titãs

Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou morrer na solidão
É preciso ter cuidado
Pra mais tarde não sofrer
É preciso saber viver

Toda pedra do caminho
Você pode retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar
Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver

É preciso saber viver
É preciso saber viver
É preciso saber viver
Saber viver, saber viver!

Para saber mais

Blog Ministério da Saúde

Folha de São Paulo 

Alcoólicos Anônimos

Talvez você também goste...

1 comentário

Prevenção ao Câncer de Próstata | Viver Depois Dos 50 24.nov.2018 - 08:52

[…] Aposentadoria […]

Responder

Deixar um Comentário