Em matérias anteriores abordamos o tema do alcoolismo, buscando compreender as diferentes interações que as pessoas fazem com a bebida, desde quando compreendem que fazem um uso social, abusivo até a dependência do álcool.
O alcoolismo, considerado doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS), traz graves consequências à vida e à saúde não apenas dos seus usuários. Por trás do alcoolismo, há pelo menos uma pessoa que sofre junto e sua dor não é apenas física, sua dor atinge a alma e enfraquece o espírito.
O ato de beber em nossa sociedade está associado à momentos de alegria e diversão e a família, no início, não percebe que ali pode haver um problema. Embora observem certo descontrole com a bebida, negam que uma pessoa a quem amam pode se tornar um dependente. É um problema difícil de encarar!!
O envolvimento com os problemas do alcoólico é lento e gradativo
Quando mais a pessoa se envolve com a bebida mais o familiar se envolve com ele. No início pode pensar que apenas quer ajudar, com o tempo e a piora da situação, a família vai se envolvendo e fica difícil deixar de intervir.
Tentando manter a rotina e os cuidados com a família, a tendência do familiar é cobrir os vácuos que o alcoólico deixa à medida que se agrava o problema com a bebida. De porre em porre e de ressaca em ressaca vai produzindo um novo sentido para a vida, ou uma vida sem sentido, focada no desejo de cuidar e curar o outro.
Por vezes sozinho, sua estratégia de sobrevivência é ignorar as próprias emoções até ficar emocionalmente entorpecido. Fica tão envolvido que nem percebe o esforço descomunal que precisa fazer para não deixar a peteca cair, aos poucos perde o foco de si mesmo. Está se estabelecendo um vínculo patológico conhecido como CODEPENDÊNCIA – um triângulo em que o foco do alcoólico é o álcool e o do familiar o alcoólico.
Na codependência o familiar preocupa-se mais com o dependente do que consigo próprio, negligenciando suas necessidades e desejos. Com o passar do tempo esse padrão de comportamento pode se tornar compulsivo e prejudicial, como se a pessoa fosse dependente do dependente.
Alcoolismo – doença da família
O consumo problemático do álcool vai além de prejuízos pessoais, a família pode estar tão ou até mais adoecida que o dependente. Baixa autoestima, dificuldades de relacionamentos – comuns para os humanos podem ser anteriores à convivência com um dependente do álcool mas se agravam à medida que as relações familiares ficam mais complicadas.
Importante ressaltar que crianças nascidas em um lar alcoólico crescem em uma situação de caos, vitimas de negligência, violência física, psicológica e até sexual. Na dinâmica familiar, crescem despercebidas até para o que se mantém sóbrio, ocupado com suas angústias, medos e ressentimentos ficam com dificuldade de estabelecer um relacionamento leve, alegre e amoroso com seus filhos.
Para mudar é preciso olhar para o conjunto da família
Romper com esse círculo vicioso é complicado, mas não impossível. É preciso reconhecer que o alcoolismo é uma doença da família, e que cada membro, como ser único sente os efeitos da sua forma. Cada familiar precisa de atenção e cuidados únicos e especiais.
Procurando ajuda
Informar-se
Compreender o alcoolismo como doença e entender as dificuldades para superá-lo ajuda na relação com o familiar alcoólico. É importante compreender que para mudar essa situação não depende apenas da nossa vontade. Mas a mudança pode começar por nós.
Apoiar o alcoólico, sempre que possível
A família tem um papel extremamente importante para a aceitação e adesão ao tratamento por parte do dependente de álcool, na maior parte das vezes é quem toma a iniciativa de procurar ajuda. Acolher, apoiar o dependente mas saber deixar claro que o vício não é bem vindo.
Em momentos de sobriedade, poder conversar francamente e sem julgamentos sobre o problema pode ajudar o alcoólico a aceitar a doença e encurtar caminhos para pedir ajuda. É importante procurar na comunidade serviços de saúde mental e grupos de apoio que possam prestar ajuda mais adequadas às necessidades do alcoólico e de sua família.
Acompanhá-lo, demonstrar interesse pelo tratamento, de forma assertiva (não fazendo por ele) aumentam a chance de que o alcoólico não desista do tratamento. No site de Alcoólicos Anônimos você pode encontrar endereços de grupos de apoio que tem ajudado muitas pessoas.
Reconhecer que a família tem um problema
Amo você mas não gosto da forma como você se relaciona com a bebida. Frase fácil de falar mas difícil de praticar. Separar a pessoa do álcool exige compreensão do círculo vicioso em que ele está envolvido para poder romper com os extremos de comportamento em que a família está acostumada.
O familiar oscila entre facilitar e brigar. Briga quando o parente está alcoolizado e facilita no momento seguinte quando nega a doença ou assume a responsabilidade do outro.
É preciso reconhecer que o familiar está diretamente afetado pelo alcoolismo, mas precisa estar consciente que o estímulo para parar de beber deve vir do alcoólico, que não pode decidir por ele e que a família precisa de ajuda independente se o alcoólico estiver sóbrio ou não.
Reconhecer o adoecimento é compreender que apenas a abstinência do alcoólico não vai resolver todos os problemas. É preciso procurar ajuda para si mesmo e não esperar garantias que o alcoólico deixe de beber.
Sozinhos é mais difícil!
Trazer o foco da vida para si mesmo e permitir que o outro assuma as responsabilidades pelos próprios atos exige cuidado e enfrentamento das próprias dificuldades diante da vida. Neste processo de autoconhecimento é possível perceber dificuldades como vitimização, necessidade de controle, pensamentos negativos… que precisam ser observados e trabalhados com objetivos de um crescimento mental e espiritual.
É importante que o familiar procure serviços de saúde, profissionais da equipe de saúde mental. Há serviços públicos especializados no atendimento ao usuário de álcool e outras drogas e seus familiares. Procure em sua cidade ou bairro.
Os grupos de auto ajuda também são espaços que permitem quebrar o isolamento em que se encontram as famílias. O grupo Al-Anon, através do compartilhamento de experiências e da prática dos 12 passos tem ajudado muitos familiares de alcoólicos a encontrar as mudanças necessárias para a própria vida.
Você não está só, busque esperanças no fundo da sua alma e procure ajuda. Acesse o site do Al-Anon, informe-se, antecipe-se, acredite!
Para saber mais:
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