Por Selma Tavares – Cientista Social, psicóloga e psicanalista
Antes de nascer já tínhamos algumas “obrigações”, bagagens herdadas, projetos sonhados por nossos anfitriões; alguns de nós sempre souberam o que nossos anfitriões queriam, outros intuíram e pode ter acontecido de alguns nem terem se dado conta, mas mesmo assim cumpriram algumas tarefas, uns as cumpriram direitinho, outros parcialmente, mas livres totalmente me parece que não estivemos.
Dessa bagagem herdada nem sempre tenho clareza do seu conteúdo, alguns são concretos, claros tais como: onde nascemos, nomes que nos deram (e que não escolhemos), mas convivemos com ele, o nome, pelo resto da vida, a genética, número de irmãos e etc. Outras são mais sutis, invisíveis, tais como as lealdades com algum membro do sistema familiar, por culpa, medo, solidariedade, gratidão para citar alguns dos fios do emaranhando da teia em que nascemos.
Lembro que estava solidaria à minha mãe sem o saber por muito tempo, por ter se separado e criado os filhos sozinha, eu depois de estar separada também não abria espaço para outro relacionamento, assim como ela.
Outra coisa herdada é que eu andava olhando para o chão, não me sentia nada a vontade no mundo, com sentimentos de pouca valia e sem sentimentos de direitos. Demorei a perceber que levantar a cabeça e realizar dentro de mim não era apenas um movimento de corpo – neste caso a cabeça – mas uma mudança de posição diante de mim e da vida.
Levei um bom tempo… depois o problema foi ajustar a altura disso 🙂 , fiquei oscilando entre alta e a baixa já conhecida. Agora achei a medida… Posso dizer que oscila menos.
Isso para motivar a refletir que alguns pesos nesta altura da vida são totalmente desnecessários, alguns dos meus viraram como bichos de estimação difíceis de deixar ir. Os que mais me pesam são da ordem dos sutis que nem sempre tenho clareza sozinha, estes já me impediram em alguns momentos de mudar o rumo e ou inventar outros caminhos, pensando que muito dessa bagagem herdada pertencia aos sonhos de outros, hoje posso mobilizar energia para os meus próprios sonhos.
E para onde vou? Para onde eu inventar e neste caso já experimentei que com menos peso vou mais longe.
Selma Tavares
Cientista Social e Psicóloga, com formação em Psicanálise e Especialização em Psicoterapia Família e Casal
Emails: [email protected] e [email protected]