Precisamos compreender, elaborar o luto e reinventar a vida

por Mª Aparecida Costa

Falar de perda, luto e morte é um assunto pra lá de sério. É tocar em sentimentos profundos de pessoas que – como crianças – estão precisando reaprender a trocar os primeiros passos sem a companhia de alguém amado.

Despedir-se de um ente querido- e de forma tão definitiva – é sempre um momento de dor profunda e quanto maior o vinculo maior a dificuldade de continuar a vida, especialmente quando perdemos alguém que a gente vê como esteio, âncora, refúgio, fonte de amor, esperança para o futuro e …

É difícil aceitar.  Quando meu pai adoeceu,  a franqueza dos médicos e vários dias de hospital não me prepararam para a perplexidade quando ele partiu. O sentimento era de não ter sido avisada (ou preparada) para o fato. Tempos depois, compreendi que o processo de negação em que estava mergulhada não me permitia pensar na finitude de um homem jovem, alto e forte.

A elaboração do luto é um processo individual

Cada um tem seu jeito e seu tempo para elaboração do luto.  É difícil viver a tristeza da perda em uma sociedade que não compreende e que não permite. A expressão de dor é comumente reprimida e rebatida com mensagens de otimismo na expectativa de que a pessoa saia rápido desse quadro.

Até entre profissionais de saúde encontramos dificuldades de compreensão e acolhimento da tristeza do luto. É mais tranquilo, para alguns, trazer para sua especialidade e enquadrar a pessoa em algum diagnóstico como crise de ansiedade e outros.

Nem toda tristeza é depressão. Nem toda pessoa triste precisa ser medicada. Não se deve rotular as pessoas ou criar diagnósticos para o luto. É preciso compreender e respeitar. É preciso aprender a silenciar e ouvir.

O que pode ajudar?

Há vários conceitos em torno da morte, filosóficos, culturais, religiosos. Para muitos a morte não é o fim, é apenas um processo de mudança. Ter uma  religiosidade pode contribuir para que o processo de luto seja menos doloroso, mas  sempre exigirá uma adaptação e um renovação para a vida.

Tudo passa são duas palavras de muita sabedoria, mas é preciso de um tempo para voltar à rotina e nos interessarmos pelas coisas como antes.

As fases do luto

Para a psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross são cinco as fases do luto. Não são iguais para todos e nem acontecem de maneira linear.

Leia, pode ajudar você a compreender que seus sentimentos e reações são mais comuns que você pensa:

1. Negação

Essa é a primeira fase do luto, quando ainda está difícil para entender e aceitar a realidade da perda. Sabemos que o fato aconteceu, mas é difícil tocar no assunto ou imaginar que não vai mais ver a pessoa, que ela não responderá às suas mensagens ou não atenderá seus telefonemas.

2. Raiva

Essa fase também é fácil de identificar. É quando a gente se revolta com o mundo e não se conforma com o que está acontecendo. A raiva pode ser para si mesma, para a pessoa que nos deixou, para o médico ou hospital, e até para Deus que permitiu o fato.

3. Negociação ou Barganha

É quando imaginamos que uma atitude diferente da nossa parte poderia ter tido um resultado diferente e a pessoa poderia ainda estar conosco. Podia ter levado antes ao médico, não ter permitido que saísse aquele dia, ter conversado mais, ter falado sobre atitudes preventivas…

4. “Depressão”

Essa é a fase mais profunda do luto, é quando a ficha cai e temos que encarar a realidade que nada nos devolverá o convívio com a pessoa querida. Nessa fase podemos sentir cansaço, falta de apetite, insônia, muita tristeza, isolamento social, dormência emocional.

Essa é uma reação natural à perda, não podemos confundir com depressão de um diagnóstico clinico.

 5. Aceitação

A própria palavra já antecipa seu sentido. Nessa fase compreendemos e aceitamos a perda. Podemos sentir saudade e tristeza, mas já visualizamos esperança na vida, no futuro e possibilidades de coisas novas em nossas vidas.

Quanto mais vivemos mais acumulamos perdas:

Aos 20 anos sentávamos no mastro da escola, ouvindo Raul Seixas e rindo à toa. Nossa família era completinha e não tínhamos noção de todos os desafios que teríamos que enfrentar. Hoje, aos 64 anos tenho outra visão: foram tantas as perdas e tão difíceis!! Terezinha Telma Murça Bendinelli

Se você viveu mais de 50 anos é certo que perdeu muitas pessoas queridas, essa é uma condição natural para os que tem o privilégio do envelhecimento. A morte é um processo natural, mas o luto dói, corta e alma, faz a vida perder o sentido. E à  cada perda revivemos a dor de outras partidas.  E precisamos inventar, reinventar, reinventar e reinventar nosso jeito de levar a nossa.

Para isso precisamos de ajuda!! Precisamos sentir que não estamos sós e que temos uma rede de amigos, familiares e profissionais de saúde de apoio. Precisamos cuidar do corpo, buscar atividades físicas, de relaxamento, massagens, passeios, que nos permita vivenciar, elaborar o luto e reiniciar, continuamente, a nossa jornada com amor, coragem e fé!

Foto de Capa: Pixabay

Para pesquisa:

Mariana Farinas

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