Violência contra mulher: machismo e paradigmas

por Mª Aparecida Costa

Na semana em que se comemora os 11 anos da Lei Maria da Penha recebemos essa matéria escrita pela Assistente Social Maria Izabel Rangel de Souza Oliveira, 31 anos. Pós Graduada em Gestão de Políticas Públicas e Feminista. Atua na Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. 

É um texto que amplia a nossa visão e sensibilidade sobre a violência contra a mulher. Imperdível!!

A cada 5 minutos uma mulher é agredida e a cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil. Os números são alarmantes e expressam as marcas de uma violência cotidiana, fruto do machismo que estrutura nossas relações, de forma naturalizada e perversa.

A cultura do machismo, em sua essência, advém de um sistema patriarcal existente desde o período colonial, período este em que nossas mulheres viviam sob forte sistema de subordinação e dominação em relação aos homens. Esta desigualdade entre gêneros, que permeavam não apenas os lares, mas também espaços públicos configurou assim a construção de uma identidade feminina submissa, em que a condição física, sexual e biológica das mulheres as definia como frágeis, seres não pensantes e incapazes.

A desigualdade entre gênero atinge todas as classes e relações sociais.

Para entender como é construído o papel social de cada gênero, é só refletirmos sobre como criamos padrões para o comportamento de nossos meninos e meninas desde a primeira infância. Podemos usar, por exemplo, o que instituímos como “brinquedo de menina e brinquedo de menino” em que: bola, carrinho, monta monte e bonecos de super heróis são considerados brinquedos de meninos: brinquedos estes expansivos, que permitem que os meninos possam correr, criar, pensar de forma ampla e construtiva. Já para nossas meninas compramos: “boneca, casinha, kit de cozinha, panelinhas, ferrinho de passar” onde reforçamos à elas este papel de “responsável pelos cuidados com a casa e com os filhos”.

E a partir disto cometemos um grande erro em definir que meninas devem auxiliar nas tarefas domésticas, se comportar de forma delicada, comportada, ou até mesmo que só serão plenamente felizes quando estiverem casadas e com filhos.

Infelizmente, a partir estas definições, muitos homens agem com atitudes extremamente abusivas e violentas por, através de um pensamento conservador e machista, idealizarem mulheres por um sentimento de posse e submissão.

É preciso mencionar também quão grave são os crimes de assédios e abusos que nossas mulheres sofrem diariamente, onde muitas vezes, de forma perversa, é atribuída à mulher a culpa pela própria violência sofrida. Quantas vezes não ouvimos a expressão: “Também, com a saia deste tamanho, pediu pra ser estuprada”.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada mostra que 60% dos brasileiros acreditam que “se mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros”.

Esta semana, em que a Lei Maria da Penha completou seus 11 anos, reforçamos o quanto é preciso romper com estes paradigmas. Precisamos apostar no feminismo como movimento que expressa nossa luta pela igualdade entre os gêneros.

Importante mencionar também: feminismo não é contrário de machismo. O machismo (como mencionei acima) estrutura a desigualdade, a opressão e submissão entre os gêneros, já o feminismo em momento algum fala sobre superioridade de um gênero sob o outro, mas sim, sobre nosso direito de ter oportunidades iguais, na esfera profissional, política e dentro de nossos lares. Fala sobre ter liberdade de ir e vir sem correr o risco de ser violentada. Sobre usar nossas roupas e expressarmos nossos interesses e comportamentos sem medo. Sobre ser solteira ou casada, tendo ou não filhos, por opção. Sobre termos salários iguais, e sermos igualdade reconhecidas por nossas capacidades e qualificações.

Esta é a nossa luta, e pode ser sua luta também!

 Por Maria Izabel Rangel de Souza Oliveira

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