Há textos que dispensam comentários e esse é um deles. Leia, anote todas as informações e compartilhe com seus amigos.
Texto cuidadosamente escrito pela nutricionista Edina A.T. Trovões, a quem agradecemos 🙂
Um cafezinho, por favor!
Esse hábito é saudável ou pode fazer mal a saúde?
Vários estudos mostram que beber café em quantidades moderadas e regularmente pode trazer benefícios para a saúde, enquanto que existem outros estudos que sugerem que o consumo excessivo de cafeína pode causar irritabilidade, dores de cabeça, gastrite, insônia e diarreia. Por isso, seria muito interessante conhecer melhor as propriedades do café, aprender a se livrar de alguns efeitos indesejáveis e entender o que seria “consumo moderado”.
Sabemos que a espécie de café, o tipo de processamento, o grau da torra e moagem, a forma de preparo da bebida (expresso, cafeteira, coado, fervido) pode interferir na sua composição química, bem como a frequência do consumo, hábitos alimentares, consumo de álcool, fumo e a genética individual podem ditar os efeitos do café na saúde e no comportamento, assim sendo, cada pessoa perceberá um efeito diferente.
Café e o Sistema Nervoso Central
A cafeína tem efeito estimulante. Baixas e moderadas doses são capazes de promover mudanças notáveis no comportamento, como: diminuição da sonolência e do cansaço, melhoria do estado de alerta, da energia, da capacidade de concentração, do desempenho em tarefas simples e da sensibilidade auditiva. Pode ocorrer taquicardia, insônia, ansiedade, palpitações, dores de cabeça e náuseas em pessoas sensíveis a cafeína ou que consomem altas doses de café. Pessoas naturalmente ansiosas ou que sofrem de ataque de pânico devem ter mais cuidado ao beber café.
Café e efeitos gastrintestinais
O café e o descafeinado provocam refluxo e estimulam a secreção do estomago; parece que a cafeína não é a vilã da história uma vez que estes sintomas também aparecem em pessoas que usam o café descafeinado. Desconfia-se da cera presente no grão e que provoca irritação gástrica. Nestes casos é melhor evitar o consumo. Na Alemanha existe um café livre desta cera (stomach friendly coffees) para amantes do café que sofrem com gastrite, mas este produto ainda não chegou ao Brasil.
Café e pressão sanguínea
De um modo geral não há provas que o café aumente ou diminua a pressão arterial. Em alguns casos, doses únicas (aguda) de cafeína pode aumentar a pressão, principalmente em pessoas hipertensas, fumantes ou estressadas, mas doses moderadas e em uso continuo parecem não ter esse efeito. Recomenda-se moderação no consumo de café neste grupo de pessoas.
Café e diabetes tipo II
Quem toma café moderadamente e regularmente (sem açúcar) tem menor chance de desenvolver diabetes tipo II e de quebra pode apresentar melhora da função da insulina, e está protegido pelo seu efeito antioxidante. Esse efeito protetor também é encontrado no café descafeinado mostrando que o café apresenta inúmeras outras substâncias favoráveis à saúde.
Café e colesterol sérico
Está comprovado que o café contém duas substâncias que favorecem o aumento do colesterol, porém quando o café é coado em filtro de papel estas substâncias ficam retiradas eliminando este problema. O consumo moderado de café expresso (até 3 xícaras/dia) não altera os valores de colesterol de forma significativa.
Café e pedra na vesícula
A presença de colesterol no sangue predispõe o deposito de pedras na vesícula e pelo motivo acima descrito o café pode favorecer o aparecimento dessas pedras, porém há controvérsias, pois quem bebe café tem um efeito protetor quando comparado com quem não bebe e em mulheres há até a diminuição da doença mesmo depois de diagnosticada, parece que o aparecimento de pedras está mais relacionado ao tipo de café e ao modo de preparo. Assim, café coado em filtro de papel oferece efeito protetor contra o aparecimento dessas pedras.
Café e doenças cardíacas
O consumo excessivo de café está associado ao risco de se desenvolver doenças do miocárdio e enfarte e não se observa o aumento ou a piora de arritmias em pessoas que consomem quantidades moderadas de café.
Café e gravidez
A cafeína passa pela placenta e recém-nascidos de gestantes que consumiram café apresentaram cafeína no sangue, mas ainda não se sabe bem quais seriam as consequências. Altas doses de cafeina podem provocar alterações na formação do feto e aborto espontâneo, principalmente se estiver associado ao uso de álcool e cigarro. Parece que a cafeína reduz (aproximadamente 100g) o peso do recém-nascido, embora não seja significante e por precaução sugere-se a interrupção do consumo de cafeína ou a ingestão de apenas uma xícara de café/dia durante a gravidez.
Café e depressão
O café contém substâncias que inibem a destruição dos hormônios serotonina e noradrenalina (responsáveis pela sensação de bem-estar e pela disposição) e o ácido cafeico possui efeito ansiolítico (tranquilizante) e antidepressivo. Sabe-se também que doses moderadas melhora a disposição devido seu efeito estimulante. Além disso, o hábito de beber café com amigos e parentes está associado ao convívio social e que por sua vez é antidepressivo.
Café e doenças de Parkinson
Há estudos que mostram que homens que bebem café regularmente apresentam 50% menos chance de ter Doença de Parkinson do que homens que não bebem café. Esse benefício não é tão evidente em mulheres, talvez pela ação do hormônio estrógeno. A Doença de Parkinson é causada pela degeneração dos neurônios e a pessoa fica com dificuldade de controlar os movimentos e a postura levando ao tremor.
Café e doença de Alzheimer
Café/cafeína protege os neurônios do processo de degeneração e diminuindo ou retardando o aparecimento da doença, parece também que a presença de substancias de ação antioxidante tem efeito protetor contra a perda de algumas funções do cérebro. A presença destas substancia depende do tipo de café, da torrefação e modo de preparo.
Café e cefaleia (Dor de cabeça)
A cafeína alivia a dor de cabeça causada por tensão, devido ao seu efeito analgésico. Esse fato já é muito conhecido e muitos medicamentos utilizados no combate a dor de cabeça contem cafeína na sua formulação.
Café e peso corporal
A cafeína tem efeito termogênico (causa aumento no gasto energético) e lipolítico (quebra da gordura). Há evidências que o café faz o corpo gastar mais calorias, provavelmente pela ação termogênica da cafeína, pois este efeito não foi encontrado no café descafeinado.
Café e absorção de ferro
O café diminui a absorção de ferro não hemíco (presente nos vegetais) quando ingerido logo após as refeições e isso pode ser um problema para as pessoas anêmicas. Nestes casos ele deve ser ingerido em horários diferentes das refeições
Café e asma
A cafeína reduz a fadiga dos músculos respiratórios e é um broncodilatador. Pessoas com asma e que consomem quantidades moderadas de café tem 30% a menos de ter uma crise do que aquelas pessoas que não consomem café. Há estudos que sugerem que o consumo moderado e regular pode até prevenir novas crises.
Café e cirrose
Há evidências que mostram que o café contém vários componentes que protegem o fígado (cafeína, cofestol, kahweol e polifenóis) contra cirrose hepática principalmente de origem alcoólica além de favorecer a redução da atividade das enzimas do fígado que são os sinalizadores da presença de doença neste órgão.
Café e osso
Anos atrás alguns trabalhos mostraram que o café fazia o osso perder cálcio, depois verificaram que o corpo não eliminava esse cálcio e era reabsorvido não sendo encontradas relações entre o consumo de café e perda de massa óssea, porém observaram que o café pode sim, interferir na absorção do cálcio principalmente em pessoas que consomem pouca quantidade deste mineral. Na verdade não se conseguiu provar, até hoje, que o consumo de café aumenta o risco de fraturas ósseas. O que se sugere é que se tenha um consumo de cálcio adequado e doses moderadas de café.
Café e acidente vascular cerebral (AVC)
Homens hipertensos com idade entre 55 e 68 anos e que consomem altas doses de café apresentam maior risco de ter AVC (derrame) do que homens que bebem café moderadamente. Assim recomenda-se diminuir o consumo nestes casos.
Café e rins (Pedra e diurese)
Muitos estudos mostram que as pessoas que bebem café apresentam 10% menos riscos de ter pedra nos rins do que as pessoas que não bebem e apesar do café apresentar um leve efeito diurético não há risco de desidratação ou alterações na termorregulação, nem de um possível desequilíbrio eletrolítico. Consumo excessivo poderia desencadear esse desbalanço de minerais.
Conclusão:
O consumo moderado (3 a 5 xícaras) de café/dia, por indivíduos saudáveis e não grávidas, parece não trazer prejuízos à saúde e tem efeito estimulante, antidepressivo e antioxidante, mas é importante lembrar que existem pessoas sensíveis à cafeína e que deveriam evitar o consumo.
Os vários tipos de café, o grau de torrefação e o modo de preparo influenciam muito na presença de substancias benéficas ou prejudiciais dificultando uma conclusão final.
Edina Aparecida T. Trovões
Nutricionista – CRN3-1579
e-mail: [email protected]
Texto publicado inicialmente na Revista City Penha