A vida surpreende continuamente e traz com ela doses homeopáticas de aprendizado. Aprendemos quando descemos as escadas da arrogância e perguntamos à vida, em sua simplicidade, o que fatos rotineiros podem nos ensinar.
O que uma entrega atrasada de material de construção pode nos trazer de lição? Desenvolvimento de paciência e tolerência, diriam alguns. Talvez o aprendizado estivesse no desafio de desenvolver a arte de dizer NÃO, à noite não é hora de entrega.
Mas não era essa a surpresa da vida… a primeira reação foi de encantamento ao me deparar com uma senhora com sua postura segura e altiva. Curiosidade – uma senhora em um caminhão de entrega? Precisei descer as escadas do sobrado, já vestida com um traje de passeio, abrir o véu do encantamento para desvendar o enredo de sua história e dela extrair o aprendizado.
Todos os dias nos deparamos com fatos e histórias. Cabe a nós decidir como e se seremos afetados por elas. Permiti ser afetada pela história de Iara, que aos 59 anos e depois de um intenso dia de trabalho conserva seu sorriso cansado mas acolhedor, observa com olhos expressivos ainda com vestígios da maquiagem matutina.
Eram retalhos de história contadas no intervalo entre uma caixa e outra, mas ali havia mais. Era mais que uma simples entrega e eu curiosa tentava compreender, insistindo pacientemente.
Quando falam com tranquilidade do trabalho que desenvolvem há mais de dez anos em seu pequeno caminhão e das filas de espera para o carregamento compreendi que aceitar os desafios implícitos nas escolhas que fazemos pode ser um dos segredos para tornar a vida mais leve e mais feliz.
Quando se dispõe a encarar um trabalho que exige força física e disposição para enfrentar trânsito intenso, eles quebram o mito da velhice inativa e nos ensinam que há muitas formas de superação no trabalho e na vida.
Quando ele diz que no contrato de trabalho exige levar a esposa como ajudante, ele afirma que há outras formas de entender perfil profissional. Ele ensina que o companheirismo construido na convivência de 40 anos supera o esse conceito básico de aptidão física.
São encontros como esses que nos fazem sair diferentes, que agregam força para seguir adiante. Mas é preciso saber garimpar e pacientemente extrair ouro do que a princípio parecera pedra.
E você que leu a história de Iara que tipo de lição extrairia?
Por Maria Aparecida Costa
