Nascer no Natal tem um que de privilégio, mas como tudo na vida tem dois lados, desde cedo compreendi que aniversariar em uma data tão especial teria um preço: não ouviria os colegas da escola cantar parabéns e ao longo da vida ganharia apenas um presente.
À medida que chegavam os Natais, os anos foram se somando, trazendo histórias, lembranças e aprendizados. O Natal de 1974 foi o marco dos 18 anos… orgulho, conquista da maioridade, suposto grito de liberdade para uma geração tão comedida como a nossa. Era chegada a hora de ir ao cinema ver filmes censurados para então descobrir que nem eram tão proibitivos assim.
Depois vieram os Natais dos 20, 30, 40 anos. O que dizer dessa fase da vida? Que foram feitas de dias, meses… anos com altos e baixos, acertos e desacertos, alegrias e tristezas, avanços e retrocessos, e eu estava ocupada demais cuidando das filhas, do trabalho e deixando a vida seguir seu curso.
Mas ninguém me preparou para os 50 anos. Foi um baque descobrir que o tripé em que me sustentei iria desmoronar – primeiro a menopausa e a terrível sensação de extinção do encanto feminino (descobri rapidamente que não era nada disso) depois as filhas que seguiram seu rumo e finalmente o afastamento do trabalho pela aposentadoria. Hora de rever a vida, de agarrar firme o timão e reiventar a rota do barco.
Se me permitem um aparte, até que fui bem inventiva – com a ajuda das filhas criamos o blog Viver depois dos 50 (onde é possível registrar todo o processo de reinvenção). Refiz minha vida conjugal (sapeca – casar de novo depois dos 50) e criei outros projetos que pude desenvolver com cuidado e zelo.
E esse Natal me traz os sessenta… e agora? Ah! agora tenho um ponto a meu favor, aprendi desde cedo que tudo tem dois lados, então já descobri que estou adquirindo muitos direitos – gratuidade no transporte, atendimento preferencial, assentos especiais… mas estou pulando a faixa para a tão famosa terceira idade – a velhice!
A velhice também tem dois ou mais lados – o corpo pode até denunciar a soma de tantos Natais, mas a mente se enche de projetos a cada um deles e as dores no joelho não me farão curvar diante dos desafios impostos pela idade e pela vida.
O Natal dos 60 anos apresenta outro privilégio – o de sentar na Cadeira da Experiência e perceber que cada década vivida teve seus encantos e o maior desafio tem sido manter a flexibilidade da vara de marmelo, que dobra mas não quebra.
Que os próximos 10 Natais apresentem-se em sua simplicidade, como os últimos 60. Que seja momento de lembrar, avaliar, buscar forças e tocar para o próximo. E que em cada um deles possa renovar o compromisso de melhorar como pessoa e como cidadã!
E que venha os 70!!
Por Maria Aparecida Costa
1 comentário
Parabéns,nao só pelo aniversário,mas também por ter superado a essa nova idade,tao temerosa por todas nós,as rugas mais acentuadas,gordurinhas a mais,problemas de saúde, como se não bastasse,teve a grandeza de pensar em todas dessa fase,criando esse blog e a página do face,eu em especial agradeço muito!