Xô depressão!! Como identificar, encarar e prevenir a depressão

por Mª Aparecida Costa
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A palavra depressão me faz lembrar de um rapaz chamado Antonio – portador de uma doença grave e limitante que constantemente repetia:

… a depressão vive me rondando mas não deixo ela me pegar não… eu luto contra ela, ela nunca vai me vencer!

Embora suas palavras fossem ditas com força e determinação me intrigavam sempre que as ouvia e me faziam refletir: até onde temos controle sobre a depressão?

Como identificar

A depressão, conhecida como a doença da alma é um dos principais males do século, com perspectiva de aumento nos próximos anos. Em pesquisa realizada encontrei informações de que a probabilidade do desenvolvimento da depressão ao longo da vida é maior em mulheres do que em homens.

Embora os sintomas associados à depressão sejam amplamente divulgados: pessimismo; tristeza; apatia; insegurança; dificuldade de concentração; falta de motivação… é difícil (principalmente para a família) diferenciar a tristeza ocasionada por uma situação de estresse de um quadro de depressão.

É natural que o ser humano ao enfrentar situações difíceis como perdas, lutos, decepções fiquem por dias ou meses triste e apático e não significa que está em depressão. Sobre isso a psicóloga clínica e educacional Maria Gedeilda, nos esclarece:

O mundo que a gente vive não permite entristecer.  É considerado um sinal de fragilidade e as pessoas querem ter uma droga para aliviar um sentimento que parece ser negativo ou ruim, mas que não é. Entristecer é um sentimento que faz parte da condição humana e não precisamos de uma droga para desentristecer.  As pessoas poderão descobrir recursos internos que vai dar conta desses sentimentos… aos poucos vão compreendendo as razões daquela tristeza e percebendo que conseguem suportar sem quebrar. Ao encarar, sai mais fortalecida!

A dificuldade em lidar com sentimentos considerados ruins tem como consequência uma sociedade que consome a cada dia um número maior de medicamentos. Na tentativa de modificar essa realidade, tem sido desenvolvidas campanhas de sensibilização sobre o uso indiscriminado de medicamentos. Essas campanhas intituladas Diga Não à medicalização da vida são direcionadas à população e profissionais de saúde e tem como objetivo diferenciar tristeza e depressão e indicar o uso de medicamentos somente quando necessários.

Mas, temos um outro lado igualmente preocupante: a depressão existe e para reconhecê-la enquanto doença é preciso vencer muitos preconceitos em torno dos transtornos (doenças) mentais. A depressão é vista como um motivo de vergonha, frescura, falta de vontade:

Poxa não sai disso por que não quer, né? Não se esforça…

Dizer uma frase dessas à uma pessoa que está em sofrimento mental não estimula nenhuma atitude positiva, pelo contrário, estigmatiza, isola e dificulta a procura por atendimento profissional.

A maior parte das pessoas procuram um serviço de saúde quando suspeitam que alguma coisa não está bem em seu corpo e não tem que ser diferente quando o problema é de ordem emocional. Apenas um profissional de saúde qualificado tem condições para avaliar o caso, fazer um diagnóstico diferencial e propor o tratamento mais adequado.

Como encarar a depressão

À essa pergunta a psicóloga Maria Gedeilda nos responde:

Atualmente, a compreensão é de que a depressão não tem causa única, há fatores químicos, orgânicos, sociais. Sabe-se que o cérebro e o corpo precisam estar em comunicação e para que essa comunicação aconteça são necessários os neurotransmissores (dopamina, serotonina e noradrenalina) responsáveis pela sensação de bem estar e prazer do corpo. A sua falta provoca o desequilíbrio do sistema nervoso. Como a depressão pode ser causada por diferentes fatores, é importante que as pessoas passem por avaliação de equipe multiprofissional, incluindo por avaliação e conduta do profissional médico.

Precisamos compreender que há três níveis de depressão – leve, moderada e grave e o seu controle não depende apenas de força de vontade. Nídia, afetada pela doença aos 46 anos assim a descreve:

A depressão causa muito sofrimento, é um processo dolorido e doloroso da alma. Ela não depende de momento bom ou ruim para aparecer ou reaparecer… Com o meu adoecimento, a pior frase q ouvi foi: Põe um baton e vai ao shopping… Por experiência posso afirmar que o mundo antes colorido passa a preto e branco… muitas vezes me senti uma caixa de papelão andando pelas ruas… As pessoas não te veem… A depressão te limita por muitas vezes, mas podemos reconhecer a sua manifestação e tirar de letra e quando ninguém espera mais nada, você ressurgi das cinzas mais forte e lapidada. Ter depressão não determina sua vida, apenas aprefeiçoa sua visão de vida. E descobrir o fio da meada de tudo traz um novo brilho no seu olhar!

Pelo depoimento de Nídia é possível perceber que há casos em que a pessoa precisa fazer uso de medicação, pelo menos até sair do quadro mais crítico, porém é importante que o tratamento medicamentoso seja associado ao acompanhamento psicológico. É preciso compreender as causas e reconhecer as fases da doença. É preciso encarar o auto conhecimento, encontrar formas para lidar com as dificuldades e limites de cada um, sendo mais tolerante e aceitando-se melhor. É preciso encontrar formas de se reiventar e encarar a vida de um jeito diferente.

Como prevenir

Do ponto de vista individual as recomendações são para observar e cuidar dos vários aspectos da vida, para a prática de atividade física e a adoção de uma alimentação equilibrada, mas é preciso reafirmar que há questões sociais que contribuem para o adoecimento emocional das pessoas e se a doença é produzida no coletivo, não podemos supor que o seu enfrentamento seja apenas no individual. Para vencer a depressão é preciso mexer com os sentimentos das pessoas e a forma como se relacionam. É preciso agregar mais amor, maior solidariedade, compreensão e tolerância nas relações humanas. É preciso espelhar-se no olhar do outro, acolhendo com amor sua alma. O amor compreende, inclue, previne, cura e salva.

Nídia conclui seu depoimento lembrando que:

  • Um simples abraço – acolhe.

  • Uma palavra sábia – alivia.

  • Um toque – transforma.

 

Por: Maria Aparecida Costa


Apoio: Maria Gedeilda Souza Ferraz - Psicóloga Clínica e Educacional - Reikiana Nível III. 


Coordenadora do Espaço Plural, email: [email protected]m -  Facebook

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