De pai para filho: a difícil arte de se fazer ouvir

por Mª Aparecida Costa
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Você já se viu com a mãozinha levantada tentando participar de uma animada roda de conversa com os filhos e ninguém presta atenção em você?

Como se sente a respeito? Quer conversar sobre isso?

Há um tempo conheci uma professora de português aposentada e nos identificamos muito. Falamos sobre assuntos comuns para pessoas com mais de 50 anos: filhos crescidos, cuidado com os pais, aposentadoria… Em meio à nossa conversa ela comentou que um dos assuntos recorrentes em seu grupo de amigas é a angústia pela desatenção dos filhos e o sentimento de que vamos deixando de ser ouvidas gradativamente.

Na época, ela me fez uma encomenda especial – que escrevesse um post bem humorado sobre o tema. Deixei email e contato na esperança que ela própria o fizesse, porém depois de algum tempo sem notícias, me arrisco a escrever (com menos humor que provavelmente ela o faria).

Fiquei pensando durante todo esse tempo sobre a “encomenda” e observando como se dá a comunicação entre as pessoas da minha família e em outras famílias mais próximas, tentando imprimir humor em um assunto delicado que causa sentimentos de frustração e inadequação.

E para piorar, temos o uso do celular ou da televisão intermediando a comunicação entre pais e filhos… A gente fica triste, fica olhando para a parede ou para as nuvens – disse um pai amoroso! O assunto fala ao coração de muitos de nós! A gente sente que passa a ocupar um papel mais secundário nas pautas e no rumo das conversas em família.

Com o post “no forno” e enquanto eu observava, ouvi a mesma queixa da minha mãe e honestamente devo reconhecer que quando estamos reunidos entre os irmãos, costumamos nos empolgar na prosa e também esquecemos sua mãozinha levantada, mesmo sem desconsiderar sua opinião.

Há diferença entre os pais, os filhos e entre as gerações – o interesse por determinado assunto pode variar muito… o que falo com pessoas da minha idade não é o mesmo que converso com minhas filhas ou com a minha mãe.

E para os filhos não deve ser diferente. Não podemos ter a expectativa de que os nossos filhos tenham interesse total por aquilo que a gente quer conversar e nem que esteja o tempo todo atentos. Há momentos e há momentos e cabe a gente refletir sobre isso…

Se por um lado não custa ao jovem parar um segundo do seu eufórico diálogo e prestar a atenção minimamente ao que os pais estão dizendo, por outro lado a gente há de perceber que o assunto, naquele momento é comum e próprio para aquela idade. É importante compreender os espaços, os nossos momentos e dos outros também.

É importante interagir e saber esperar os momentos para termos aquela conversa com os filhos.  Há momentos de se calar e de se fazer ouvir… Há momentos de bater a mão na mesa e dizer: será que posso fazer um comentário? Há momentos de olhar com amor e pensar – que bom que os filhos conversam tão animada e afetivamente!

Lembram-se de quando eram crianças que ficávamos observando-os brincar, embevecidos de amor?

É claro que não estamos falando aqui dos casos mais graves de omissão e negligência com o idoso. Observamos em nossa cultura um descuido e desrespeito muito grande com o idoso onde ele não tem o direito de se expressar em momento nenhum. A gente está tratando aqui de espaço de diálogo dentro da família.

Agora, o mais importante de tudo é pensar que a conversa abranda parte de qualquer conflito e quando estamos tristes e insatisfeitos precisamos encontrar espaços para falar sobre isso, sem cobranças e lembrando sempre que diálogo pressupõe compreensão mútua.

Os textos que escrevo não esperam encerrar por si uma discussão. Esperam permitir expressar sentimentos alegres ou tristes e fomentar o debate. No debate temos a possibilidade de perceber que não estamos sós e que conversando podemos crescer juntos!!

E você o que me diz sobre o assunto?

Maria Aparecida Costa

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