Para a família, a primeira impressão do concurseiro é a de um familiar que se dedica exaustivamente aos estudos e que vive prestando concursos. Mas nem sempre é fácil compreender o universo dessas pessoas.
Mas, afinal quem são os concurseiros?
… São pessoas que assumem o estudo quase como uma profissão, com o objetivo de ingressar em um cargo público. Mantém horários de estudo bem definidos, cronogramas e metas. Alguns chegam a estudar de 2 a 8 horas por dia. No final de semana batem o recorde, chegando a estudar entre 8 e 12 horas diárias…”
Normalmente, o concurseiro é bem dedicado, focado e tem vida social restrita. As provas são extensas e precisam se preparar em outras áreas de conhecimento além da área em que se especializou. Dessa forma o pedagogo, por exemplo, precisa estudar direito, informática, raciocínio logico, entre outras matérias. É muita coisa para aprender!
A partir de 2006 os concursos públicos ficaram mais atrativos e a concorrência passou a ser maior. Em alguns concursos chegam a se inscrevem mais de 3.000 candidatos concorrendo para uma ou duas vagas, o que torna a empreitada bem difícil! Alguns comparam a probabilidade de ingresso no cargo público a um feito mais difícil que ganhar na mega sena.
Entre os concurseiros há pessoas de todas as classes sociais, desde o trabalhador braçal até o filho de empresários que sonha em ser diplomata. A diferença entre eles é que alguns conseguem se dedicar exclusivamente aos estudos, com o apoio de cursinhos especializados e professores. E há aqueles que precisam trabalhar para garantir a própria sobrevivência, acumulando as duas atividades.
Os cursos e os livros são caros e muitos concurseiros com baixo poder aquisitivo estudam em casa sozinhos, quase autodidatas. Esses acabam encontrando mais dificuldades e por isso, as vezes, demoram mais a passar.
Há concurseiro que passa no primeiro concurso e fica satisfeito. Para ele já está bom! Outros passam e continuam estudando por não atingirem a meta que estabeleceu para si mesmo.
…O topo para o concurseiro existe, ele tem uma meta e vai estudar até passar naquela prova. Para alguns é analista, auditor, promotor, juiz… Depende da formação e do que se quer fazer…”
“O consenso entre os concurseiros é a vontade de mudar de vida”.
Foto: Autor desconhecido
E para manterem-se motivados, alguns utilizam uma estratégia bem peculiar: escolhem fotos de apartamentos, carros ou outros bens como fonte inspiradora. São os sonhos e as conquistas materiais que almejam. Há muitos concurseiros que conseguiram mudar de vida e os outros se espelham neles.
…No começo estudar é um sacrifício enorme. Você tem que abrir mão de muitas coisas, inclusive compartilhar vida em família, namorar. Eu coloquei a foto de um apartamento lindo… olhava para a foto e ia estudar…Depois do primeiro ano, a gente entra na rotina…” Jú (concurseira diplomada)
Há algumas palavras que orientam a vida cotidiana dos concurseiros:
- Motivação
- Foco
- Disciplina
- Persistência
Se nos colocarmos no lugar dessas pessoas podemos reconhecer que a luta deles é complicada e que é sempre um exercício difícil manter-se motivado, com foco, disciplina e ainda persistir nos estudos, especialmente para aqueles que estudam solitariamente.
… Eu costumava ir estudar em uma biblioteca pública, até que as pessoas começaram a rir de mim e da minha assiduidade naquelas salas… daí deixei de ir… Jú
Em uma sociedade onde estamos presenciando a gradativa decadência do sistema educacional, as pessoas tem mesmo dificuldade para compreender como há pessoas que preferem ficar estudando nas horas vagas.
… Como nem sempre somos compreendidos entramos em grupos só de concurseiros para poder ter com quem conversar sobre os nossos assuntos. E isso é bem importante...” Jú
E o papel da família nessa trajetória?
A família tem que confiar e ter paciência, pois cada pessoa tem um ritmo e também uma bagagem de estudo, por isso algumas pessoas conseguem passar mais rápido e outras demoram mais.
A família pode contribuir apoiando e incentivando. Cada concurseiro tem um percurso e nenhum deles é fácil.
… Há períodos em que a pessoa se deprime. Muitos acabam tendo que fazer terapia quando descobrem o próprio limite… Jú
A concorrência é enorme e muitos tem a sensação de que não vão passar (mesmo que se esforcem) e isso gera impotência, frustração, baixa autoestima e culpa, principalmente quando há pressão da família querendo que ele seja aprovado logo.
… Muitas famílias começam a mudar e acolher melhor seu familiar quando o concurseiro passa em alguma prova, mas até lá ele vai sofrer muita pressão!”
Precisamos esperar que o concurseiro passe para finalmente compreender e apoiar? A família tem um papel importante: o de perceber todos esses sentimentos negativos e contribuir para reconstruir essa autoestima tão importante para quem precisa manter viva a fé e a esperança.
Tem muito conteúdo aqui. O que podemos pensar sobre tudo isso?
Não temos a pretensão de fazer profundas análises do contexto social em que vivemos e do papel que este contexto exerce na escolha dessas pessoas, principalmente por reconhecermos a pluralidade da realidade em que vivem os concurseiros e suas famílias , porém algumas elucubrações podemos arriscar lendo todos esses depoimentos.
Alguns pontos de reflexão:
- Se tivéssemos maior investimentos e melhor credibilidade na educação, esses jovens não estariam tão sozinhos. Haveria uma cultura de incentivo e apoio aos estudos (essas pessoas merecem troféus e não descrédito);
- Se o modelo social permitisse uma distribuição de renda mais justa e igualitária onde os jovens (e menos jovens) pudessem sonhar em ver possibilidades de qualificação profissional e expectativa de bons empregos, a transformação da vida das pessoas não ficaria tão vinculada ao ingresso em um cargo público;
- Quando pensamos que 3000 pessoas concorrem a uma vaga fico imaginando um funil gigante que reterá 2999 pessoas que também se preparam (mais … ou menos) mas que sobretudo também sonharam. É cruel e desumano responsabilizar e culpabilizar todas essas pessoas.
Vivemos em uma sociedade capitalista onde aprendemos desde pequenos que precisamos nos esforçar para ascendermos socialmente, ou seja, subir as escadas da piramide social depende mais do esforço individual do que de ações coletivas que primem por qualidade de vida para todos os cidadãos.
E nessa conjuntura, os jovens no nosso País tem que procurar respostas individuais, (muitas vezes penosas) quando não há propostas coletivas, mesmo nadando contra a maré.
Esperamos que essas reflexões possam ser úteis para compreendermos melhor essas pessoas lutadoras e seu esforço e poder repensar o meio em que vivemos e conservamos!
A sugestão, dicas e informações para esse post devemos à Juliana do Blog Pedagogia para Concurseiros. Obrigada Juliana. Recomendamos seu blog para todas as pessoas que estudam nessa área.
Para pesquisar outros blogs:
Para pensar mais sobre a Piramide, leia:
O Geógrafo: Reflexão sobre Piramides Sociais
Foto de capa: photoStudy session
1 comentário
Realmente neh,A pessoa que se determina a fazer dos estudos seu segundo trabalho e se dedica para que possas alcançar seus objetivos,Abrindo mão de poder ter uma vida social regrada merecem nosso respeito,Apoio e carinho…