Reconstruindo a Autoestima depois dos 50

por Mª Aparecida Costa
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Em viagem recente com minhas filhas esbarrei no pé da mesa, derramando o café da caçula 🙁 e antes que me olhassem com o olhar de reprovação amorosa eu lhes disse: eu me perdoo. Estou aprendendo a me perdoar de coisinhas que antes me tiraria o prazer desse momento tão especial com vocês. Estou reconstruindo minha autoestima e sempre é tempo para isso.

Mas o que é reconstrução de autoestima? Se ninguém é perfeito por que alguns tem melhor autoestima que outros?

Não há ninguém perfeito, da mesma forma que não há famílias harmonicamente perfeitas e essa é a máxima da vida!! Podemos perceber isso na convivência com outras pessoas. Você já passou alguns dias na casa de um amigo ou parente? Você deve ter percebido as diferenças nos costumes, nas “esquisitices”. Cada um tem sua “esquisitice”, seu ponto de fragilidade (chamamos de esquisitice aquilo que é diferente da gente e nos causa estranheza).

A autoestima começa a ser construída até antes do nascimento e uma série de fatores vão contribuir para essa formação – momento histórico e local onde nasceu; questões físicas e psíquicas; relações estabelecidas entre – pai/mãe (em todas as concepções), filho/pais, irmãos, família…

Nossa autoestima também dependerá da forma como aprendemos a lidar com o mundo interno (nossos pensamentos e sentimentos) e também com o mundo externo. Como lidamos com as adversidades e a quantas anda nossa resiliência. Chamamos de resiliência a capacidade de superar, aprender e se fortalecer com os desafios da vida.

Com baixa autoestima a pessoa tende a viver de forma mais defensiva e insegura, exige muito de si mesmo, sente-se envergonhado e inferior aos outros, carrega sentimento de culpa e autocrítica exagerada, contenta-se com muito pouco e tem dificuldade de impor sua vontade. E portanto leva a vida de forma mais pesada e com maior dificuldade.

Sucesso profissional não está, necessariamente, ligado à pessoas com boa autoestima. Muitos profissionais utilizam a inteligência racional para superar os sentimentos provocados pela baixa autoestima e digo por experiência própria que é uma luta danada!! Daí, fico pensando: se já vivi a vida toda nesse desafio de superação de baixa autoestima é possível agora depois dos 50 modificar isso?

E viver depois dos 50 traz outros desafios para a preservação da autoestima, que temos tratado em várias matérias nesse blog, entre elas os ganhos e perdas do Envelhecimento.

Fiz essa pergunta ao psicanalista José Bernardo Magalhães e ele me responde:

Quando atendo uma pessoa com baixa autoestima, independente da idade, meu trabalho é contribuir para que ela perceba as coisas que deram certo em sua vida. É comum que a pessoa relembre com maior facilidade fatos que não deram certo. Ela tende a valorizar e colocar no topo aquilo que considerou como um fracasso, mesmo detalhes dentro de uma situação que deu certo. Exemplo: uma pessoa com baixa autoestima prepara e faz uma palestra maravilhosa, muito elogiada pelos participantes, no entanto o que ela guarda é que no começo ficou nervosa. É como se todo seu trabalho e a repercussão positiva ficasse em um plano inferior, ou seja, os 99% da atividade que deu certo ganha uma proporção menor que aquele 1% do nervosismo (que muitas vezes ela soube disfarçar bem). Meu trabalho é ajudá-la a redimensionar esses sentimentos, relembrar as coisas que deram certo, tentar entender por que deu certo e reconstruir um autoconhecimento fundado nisso.

Que maravilha!! Por suas palavras percebemos que é possível reconstruir e reforçar nossa autoestima. E para isso precisamos:

  • Aprender a olhar para nós mesmos com olhar mais amoroso e menos exigente – valorizando as coisas boas que construímos.
  • Priorizar o auto cuidado em detrimento do cuidar do outro – cuidar é amor e amor ajuda na autoestima, mas precisamos reservar um tempinho para nós mesmos todos os dias.
  • Cuidar do nosso corpo, da mente e do espirito – olhando para nossa alimentação, atividade física e outras atividades que façam bem para nosso espírito e mente.
  • Realizar atividades que nos deem prazer – artesanato, dança, musicoterapia, sair com amigos, cinema, leitura e um mundo de possibilidades.
  • Nos perdoar dos pequenos deslizes como tropeções nas mesas de café da manhã 🙂
  • Aprender a dizer Não.
  • … – espaço para ser preenchido por você, respondendo à pergunta – Que outros aspectos da sua vida precisam de cuidados?)

E sobretudo:

  • Valorizar aquilo que você faz e o que você é, interiorizar isso, colocar para dentro de você essa singularidade, essa maravilha!! Você é um ser imperfeito sim, mas único!!

Para a reconstrução da autoestima muitos de nós, que vivem depois dos 50, vai precisar de ajuda de um profissional de saúde mental. Tomar café com uma amiga é bom, um gesto de amor e amizade que ajuda a tocar a vida e nos faz repensar em muitas coisas mas fazer terapia é diferente, é reconfortante ao mesmo tempo que é instigante, ajuda no autoconhecimento, na compreensão e superação de muitas dificuldades. E naturalmente na possibilidade de viver de um jeito menos defensivo e mais pleno.

Recomendo!!

 

 

Foto de capa: Shutterstock

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